Se tem algo que eu ainda não consegui compreender é como uma pessoa opta por levar a vida como se estivesse carregando chumbo. OK, as coisas são difíceis, dinheiro não cai do céu, as relações familiares são complexas, os amigos leais são raros, a competição é predatória, emprego é luxo, a violência escandaliza, e por aí vai. Motivos para reclamações não faltam, ser infeliz é moleza, é o não da existência que toda criatura recebe. Porque se tem alguém que só recebe “sim” e é completamente realizado e livre de problemas, por favor, me escreva. Leveza não está relacionada necessariamente à ausência de dificuldades. Normalmente é até um traço de personalidade, há os que são agraciados com essa característica, já trazem isso no pacote, deixam essa marca para o mundo. Nada impede, porém, que seja adquirida todo santo dia, com esforço, humildade, paciência, otimismo. Não dá para deixar a peteca cair. É desagradabilíssimo conviver com gente amarga, que está sempre com postura de vítima, que tem certeza que tudo conspira contra, que não assume a responsabilidade das escolhas e culpa o resto da humanidade pela dor que carrega. Ninguém está livre de sentir isso, e é claro que existem “n” situações onde houve um prejuízo real e a sensação de revolta é inevitável. Mas tenha dó, vá compartilhar sua dor com alguém, um amigo, um psicólogo, um psiquiatra, troque uma idéia, escreva, pinte, borde, sapateie, canalize a dor para algo produtivo e não desconte em quem não tem nada a ver, porque a cada um já cabe o peso de superar as próprias dificuldades.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
|