Não quero mais frequentar aquele supermercado lotado, entediante, com as mesmas verduras amassadas, aquelas frutas mal ajambradas, encontrar com as mesmas caras, ouvir os mesmos assuntos de fila para dez volumes, subir o morro com aquele monte de sacolas agarradas em meu braço. Quero ir à feira pela manhã, escolher calmamente o que desejo levar, pechinchar, comprar meia dúzia de girassóis e perceber que ganhei o dia. Quero me preocupar menos com a arrumação da casa, que por mais que se tente manter conservada está sempre bagunçada, como se tivesse sido atingida por um tornado. São tantos papéis, roupas, badulaques, móveis, tralhas, coisas antigas e amassadas... Chega dessa mania de viver para isso, deixarei a sala sempre arrumada e passarei a chave na porta que dá acesso aos outros cômodos. Viverei de aparências. Precisarei apenas de um verniz, uma organização superficial para receber meus ilustres convidados, que raramente aparecem. Cansei dos saltos altos, dos brincos de argola, dos colares que pesavam, das pulseiras que adornavam. Menos é mais, meu bem. Desisti de dormir tarde. A partir de agora, terei que madrugar, fazer alongamento, tomar o sol de outono, ir lá em cima, no jardim, onde as borboletas amarelas voam e pousam em meu ombro esquerdo. Quero mais tempo para sentir minha respiração, cuidar de mim, diminuir um pouco o ritmo de leitura para olhar a paisagem. Envelheci dez anos em um por ser rígida demais. Quero mais equilíbrio, plenitude, menos razão, mais alegria e cabeça fria.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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