Nos dias atribulados em que vivemos, sofrer é quase um luxo. Não dá tempo, é preciso lutar, trabalhar, cuidar da casa, dos filhos, dar conta da agenda, pagar as contas, ingressar na especialização, no mestrado, no doutorado, viajar, além de fazer um esforço extra para fingir que está tudo bem, obrigada, se melhorar estraga. Ao engolir sem mastigar as tristezas naturais que a vida impõe, a insatisfação cresce, toma forma, até transformar-se em doença. Quem não ouviu falar em alguém que aparentemente estava bem até que caiu em uma depressão profunda, teve crises de pânico ou um câncer? Sou absolutamente contra essa hipocrisia, esse ideal de felicidade que nos foi imposto. Passar pela vida sem refletir e amadurecer a partir das adversidades que chegam e nos atropelam sem piedade é perder a oportunidade de ser feliz genuinamente, com mais consciência e profundidade. Alegria fingida é a maior balela. Melhor parar um pouco e mergulhar profundamente na dor para que ela passe do que fragmentar o sofrimento, dividí-lo em parcelas feito fatura de cartão de crédito, pagar os altos juros, cobradores de desejos, e bater de frente com a realidade.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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