Lembra daquele dia em que você sofreu uma terrível decepção, perdeu o emprego, um ente querido, foi humilhado, ignorado, levou um choque ao flagrar sua namorada da época aos beijos com seu primo de terceiro grau? Não?! Ótimo, isso significa que apesar de ter memória, não se apegou aos fatos tristes, não é rancoroso, deixou passar. Não revive a emoção do acontecimento, superou, caminhou com os novos fatos. Outro dia me disseram algo como “você tem que viver sua vida”. Interessante, eu estou vivendo, ah, estou! Nunca produzi tanto, nunca lutei vorazmente para conseguir o que almejo quanto agora. Das coisas mais simples passando pelas inimagináveis. Mas sei que algumas emoções passadas ainda estão presentes. Não nos dias que correm, não enquanto estou executando minhas tarefas, mas reprimidas em algum lugar por aqui. O foço, é assim que o batizei. Estão lá, deixem-nas por lá. Se viessem à tona com muita frequência não daria conta do recado. Tenho uma grande admiração por pessoas que desapegam-se com facilidade, que não alimentam a dor, que resolvem e ponto final. E admiro aqueles que respeitam a ferida alheia, não enfiam o dedo porque percebem que se aguardarem um pouquinho mais, será mais fácil para que tudo seja resolvido e esquecido, e as dores ficarão para lá, bem longe, em um outro tempo.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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