Estar só é um ato corajoso em uma sociedade ávida por pares. Nem que seja uma união de fachada, só para constar, um casamento da porta para fora, para conferir credibilidade, um namoro sem paixão, só para dizer que existe alguém ao lado. Uma cobrança paira no ar. Pode parecer que tudo anda muito modernoso, mas há conservadorismo, tradições muitíssimo arraigadas. Ficar sozinho é uma oportunidade para você observar se aprecia sua companhia. Aproveite, é de graça e não há contra-indicações. Uma experiência que abre oportunidade para adquirir força, profundidade, sabedoria, resignação. Nem sempre é fácil, por isso desafiadora. Ter um companheiro não depende apenas de uma parte. Encontrar alguém interessante e compatível é ganhar um prêmio. E relacionamento acontece por múltiplos fatores. Tem belíssimas que não engrenam, educadíssimas que não encontram, cultas e inteligentes que só abraçam os livros. Já cansei de ouvir especulações sobre o tema. Como se a existência fosse matemática e a vida fosse feita de garantias. Bela, polida, brilhante: êxito. Nem sempre. Sem contar os homens decepcionados com a ampla oferta de mulheres que apelam para o desespero, atiram-se e os assustam. Ainda existem os que querem levar algo a sério, apesar do pessimismo que ronda a cabeça da mulherada. Sugiro prudência na escolha. Hoje acredito que o amor é mais racional do que supomos. Aposto na introspecção e na solitude moderada como grandes aliadas. Ter alguém para compartilhar é incrível, ótimo, mas não para compensar carências. Somos seres gregários e buscar companhia é saudável e natural, mas não a qualquer custo, aceitando migalhas de afeto e massacrando a identidade para desfilar de mãos-dadas.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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