Hoje é inverno em meu íntimo. O sol não brilha lá fora, mas mesmo que tudo estivesse radiante, eu não estaria em sintonia com o clima. Tem gente que reclama do céu de minha cidade, diz que está sempre cinza e que tal característica influencia o humor. Há quem seja mais vulnerável à sazonalidade, mas me oriento mais pelas estações e ciclos internos do que externos. Já tive momentos coloridos quando chovia torrencialmente, e estive no olho do furacão enquanto o sol brilhava convidando a um passeio que para mim seria inviável. A tempestade estava em minha mente. De vez em quando ouço alguém dizer que tal lugar é triste, que traz melancolia, angústia. Os lugares não são tristes, nem alegres, os lugares são simplesmente o que são. Quem atribui tais sensações somos nós, dependendo de nosso estado de espírito. Quando alguém morre ou ocorre alguma separação, um desentendimento nas relações, é comum a busca por um local novo, na tentativa de amenizar as lembranças. É uma alternativa, outras paisagens podem sim, ajudar. Mas por mais longínquo que seja o lugar, para onde quer que se vá, só funcionará de fato se o pensamento for direcionado para novos assuntos. Não crio ilusões. Pretendo sair daqui um dia, a data desconheço. Buscarei um céu mais azul, mas consciente de que não adianta fugir, porque a bagagem irá junto.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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