Tudo tem limite, inclusive carência afetiva. Principalmente carência afetiva. Hoje ouvi um comentário curioso, que tento reproduzir agora: “tem gente que é assim, você dá atenção, amparo, dá ’ração’ e nada. Recebeu tanto amor e é desse jeito. Parece um vampiro de energias. O motivo? Sei lá, deve ter fundo falso.” Ô mazela terrível, carência sem fim, nada preenche o eterno abismo colossal no interior do indivíduo. Existem muitos contaminados por essa epidemia voraz. Difícil de curar, nem todos tem ânimo e coragem para realizar uma reforma íntima a fim de dar jeito no tal fundo falso, porque lá embaixo está lotado de tralhas. Se começar a revirar dará uma trabalheira, terá que tirar a poeira e muita coisa do lugar. A preguiça chega, faz amizade com o comodismo e continua tudo igual ou pior, porque se a pessoa envelhece nesse estado, mais complexo fica para reverter a situação. Aparentemente é mais simples jogar a toalha, desistir, é a lei do menor esforço. Eles vão circulando por aí, são amigos, familiares, inteligentes, simpáticos, sedutores, mas podem revelar-se manipuladores, complicados, insensíveis, ingratos. Porque ainda falta muita coisa e eles não estão satisfeitos, é preciso sempre mais. O buraco permanente foi cavado durante muito tempo, quando cismaram que o amor teria que vir necessariamente dos outros, quando deveriam amar a si mesmos.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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