Os lúcidos tem grandes chances de tornarem-se desequilibrados, irados, insanos. Observar a fundo as questões e enxergar além do óbvio pode ser um castigo, levar a situações extremas, gerar náusea permanente, aversão à humanidade. Pessoas muito lúcidas costumam ter grande sensibilidade e intensidade, em alguns momentos fraquejam e sentem-se vulneráveis, impotentes, encurraladas, rendidas. Quando buscam apoio e não ficam enclausuradas em um emaranhado de questões, amadurecem e contribuem muito, tanto nas artes, como em profissões de ajuda a outros seres humanos, que talvez padeçam da mesma dor. Ou simplesmente tornam-se pessoas compreensivas que oferecem amparo quando solicitadas. Sentem compaixão, amor verdadeiro. Quando a ajuda externa não chega, quando eles se deixam levar, o desfecho não costuma ser feliz e muitos que estão em volta sofrem junto. Ou oscilam entre altos e baixos, eufóricos e amargurados, ou se arrastam contaminando e despejando sua cólera em quem ousar passar por perto. Autodestrutivos, vingativos, ferozes. Lucidez é para ser usada em doses homeopáticas. Para poder viver bem, muita gente opta por uma bela venda na cara, uma hipermetropia constante, um anestésico para amenizar o golpe. Quanto menos visão, maiores as chances de felicidade perene. Agora bateu uma lucidez, por isso escrevi, por isso você me encontrou aqui.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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