O tempo não para para reorganizarmos o que sentimos. Com o passar dos anos, fazemos de nossa mente quase um depósito de lixo. Acumulamos toxinas, ressentimentos por motivos sérios ou mesmo tolices, rancores, amores e ódios, amizades que trincaram, conversas que foram adiadas, carências afetivas, inveja, ciúme, somado a um desejo de expressar tudo isso, o que não acontece em grande parte dos casos. Um dia após o outro, uma bordoada atrás da outra e, de repente: pane. Pode acontecer a qualquer momento, na lanchonete comendo coxinha de catupiry, no bar com seus melhores amigos, sozinho em um domingo ensolarado, abraçado com o namorado assistindo a um programa banal na TV. Atravessando a rua, dando banho no filho, limpando a geladeira, varrendo a varanda. É assim, do nada. A vida indo, você ficando. Pane. É como se nada fizesse sentido, é sentir-se órfão do mundo, é não enxergar um centímetro à frente. É como entrar em um túnel e demorar para encontrar a saída, é a gestação do nada, é uma sensação esquisita que bate, é uma tristeza anônima, não identificada. É assim que a vejo: pane. Melhor verificar se está tudo em ordem antes de seguir viagem.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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