Não uso mais sapatos de salto, mas como amanhã será casamento de uma amiga querida, fui comprar algo mais adequado ao momento. Minhas rasteiras andam gastas demais. Aproveitei que havia liquidações pela cidade, demorei para encontrar mas consegui uma que se adaptasse aos pés e ao bolso. Negócio fechado. Sabe-se lá o motivo, ao retornar para casa com a sacola em minhas mãos, pensei na quantidade de objetos acumulados, roupas, bolsas, sapatos, livros, revistas, acessórios, quadros, uma infinidade de coisas, do útil ao fútil, que tenho há tanto tempo, e outros novos que chegam, porque ganho ou compro, enfim, a questão é a seguinte: objetos não são afeto, não substituem um carinho ou apoio que não recebi quando precisei, não importa o quanto eu tenha, o quanto venha a ter, o quanto eu leia, por mais prazer que isso traga. E mais: mesmo o afeto de terceiros não basta. A melhor família, o companheiro mais bacana, o emprego dos sonhos, tudo isso complementa, mas não supre. Eu escrevo todos os dias, quero passar a vida fazendo isso, me sinto realizada, e amanhã, outra lacuna. É a fome emocional que não cessa, é a busca por algo tão grandioso que mal sei o que significa. Tenho curiosidade suficiente para tentar descobrir o que é isso, mas desconfio que seja algo tão íntimo que nem para mim se revelará. E assim vou levando, consciente de que existencialismo em excesso não cabe no cotidiano.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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