Quem passa por uma profunda mudança na vida, onde tudo vira de ponta cabeça e parece que um tsunami passou deixando tudo fora do lugar precisa de um tempo para se recompor. O processo de luto é fundamental, onde é preciso fazer uma pausa, reavaliar sentimentos, posturas, cauterizar as mazelas, liberar o passado. Quando este processo não é realizado, quando esta etapa não é vivenciada, podem surgir algumas sensações desagradáveis em momentos impróprios, que deveriam estar repousando em algum compartimento da mente, sem interferir no momento presente. Ninguém precisa nem deve anular-se diante de uma transformação radical ou mesmo de uma tragédia. Mas cautela antes de dar os primeiros passos diante do que restou faz bem, somado a uma pitada de silêncio interno a fim de conhecer-se melhor e otimizar os laços afetivos quando o retorno à grande roda da vida for inevitável e oportuno. Permitir-se sofrer não é uma tarefa fácil, afinal, parece que estamos programados para o prazer e tentamos ignorara a dor, não pensar em assuntos que evoquem angústia, aquele desagradável aperto no peito. E por ser desagradável, merece atenção, para que possa ser resolvido e nos deixe seguir em paz, em sintonia com o que há de melhor, mas sabendo que a dor é inevitável. O equilíbrio entre alegria e tristeza, saudade, raiva, amor, perdão, compaixão são os nossos pedacinhos internos, que formam o mosaico da tão almejada felicidade, que não é composta apenas de sentimentos agradáveis. Olhar para o lado sombrio sem medo leva a um grande aprendizado e nos mostra o quão vulneráveis e fortes podemos ser.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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