Informação em excesso me preocupa, e muito. Saber selecionar é imprescindível para não nos deixarmos levar pelas marés da pós-modernidade.

Quando 2008 estava terminando, havia muitas questões sendo discutidas a respeito da crise econômica que ainda gera muitas dúvidas, inseguranças, um “boom” de inquietações. Para todos os conflitos que surgiam, mesmo os mais simples, esses que enfrentamos diariamente, a situação era colocada como pano de fundo, uma justificativa para destemperos, reflexões existenciais prolongadas, atritos, faniquitos. Qualquer coisa, se alguém perguntasse o motivo do chilique, a resposta estaria arquitetada: “ah, é a crise!”. Tem sempre um culpado externo, então a eleita foi e ainda é a economia mundial, pelo menos para uma grande parcela da população. O ideal seria cada um procurar entender o que está havendo internamente e tentar diminuir as labaredas íntimas, mas com um álibi desses, tudo bem, qualquer mortal compreende.

Algumas pessoas voam longe, se apegam à astrologia para justificar atitudes que fogem aos padrões comportamentais considerados "normais", aceitáveis. Respeito os astrólogos, mas para pessoas que desconhecem o bom senso, isso pode ser um gatilho para impressionar o sujeito. Nas previsões, pelo que li, havia uma boa nova, 2009 seria um ano de muitas transformações, o ano do Sol. E que o Plutão - que para a astrologia não foi descartado - estaria saindo de alguns signos e entrando em outros e para completar ainda teria o retorno de Saturno na vida de pessoas com idade entre 28 e 30 anos. Com todo o respeito, achei até graça porque, no meu caso, Plutão estaria saindo do meu signo que é Sagitário e entrando no da minha mãe, que é do signo de Virgem. E Saturno retornando não me favorecia porque também fazia, digamos, um estacionamento, uma pausa em Virgem. Difícil. Só fugindo para o meio do mato!

Outra mania que tenho observado: pessoas identificando-se cada vez mais com transtornos de personalidade, transtornos mentais, porque existe muita informação disponível, o acesso é simples e tem doença que está virando moda. Bipolaridade está em voga, qualquer alteração de humor e os desavisados já pedem o lítio, e o pior é que há profissionais diagnosticando muitas vezes sem aprofundamento. Personalidade Borderline também andou muito comentada, conheço gente que se identificava e estava levantando a bandeira, tipo “bom dia, acabei de me encontrar, sou limítrofe!” Existem muitos doentes e transtornados de fato, e existe muita gente carente que torna-se hipocondríaca. É bom avaliar cada caso.

Observo as mil e uma ideologias, tudo o que é estudado, pesquisado para ajudar mas às vezes atrapalha, quando é levado ao extremo, à risca e sem percepção da responsabilidade individual. Ainda preciso beber em fontes externas, saber o que acontece lá fora, ser culta, informada, globalizada, antenada e talvez, medicada. Ainda sou uma espécie de voyeur, em um sentido mais amplo, em relação ao que acontece fora de minha vida, de minha mente. Tenho interesse em olhar pelo buraco da fechadura, sim. E me interesso ainda mais pelos meus valores, se estou alicerçada na rocha e não em um monte de areia, porque se o cometa passar, se a crise agravar, se o mundo tombar, se a pílula não estiver disponível, não me perderei por aí.