Ontem finalmente saí do casulo e fui dar uma voltinha no centro da cidade. Que maravilha, as lojas estavam abertas mas o movimento era mínimo! Nada mau, exceto para os comerciantes. Ninguém pisou no meu pé com chances de arrancar minha sola de sapato, não fui levada junto com a bolsa por nenhuma alma apressada, nem fui tragada pela massa que domina as ruas centrais em dias comuns. Encontrei com uma amiga casualmente, batemos um papo e ela comentou a respeito da paz que reina quando a maior parte da cidade viaja procurando samba, suor, cerveja e afins. Adoro essa paradeira, respeito os amantes da folia, mas ainda não consegui me deixar seduzir. Já passei carnaval em Salvador e quase fui esmagada na rua, deve ser porque sou magrinha, fácil de ser engolida pela multidão estratosférica. No camarote observava os foliões e seus abadás, aquela beijação, algumas cotoveladas vez ou outra pela disputa da proximidade em relação aos artistas que pulam freneticamente em cima dos Trios, o povo fica hipnotizado mesmo. Bacana tanta energia concentrada, mas devo ter hipotireoidismo porque só de ver canso. Na época adorei a viagem, mas acho que não enfrentaria a maratona outra vez. Esse ano dei apenas uma olhada nos desfiles pela TV e achei divertidíssimo um encontro entre amigos, ri muito, dancei a “dança do quadrado” depois de tomar uma cervejinha de leve. O repertório contou com fado, funk, bossa nova, MPB, rock, Hendrix, enfim, bem eclético. Terminei comendo pão de alho e procurando pelo último pedaço de picanha que já havia virado carne seca. Ah, ainda rolou o “jogo da verdade”. Papo cabeça, confidências, a coisa foi muito fina. Quarta-feira de cinzas sem ter que reunir o que sobrou, porque estou inteirinha aqui, produzindo, feliz da vida. Bendita alienação carnavalesca, atrás do Trio Elétrico só não vai quem já morreu... E eu!
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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