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COLUNISTA
Sayonara Lino
25/02/2009 - 12h00
Ilha
 
 

Em plena interação através da grande rede que nos conecta, às vezes sinto receio de que haja um certo distanciamento físico entre mim e as pessoas que estão exercendo o direito de transitar pelos lugares e não lugares que compõem o espaço público. Gente espalhada por todos os lados e eis que estou aqui escrevendo e lançando um olhar sobre a questão.

Sou satisfeita com meu ofício, nada a reclamar, mas é que tenho circulado mais na rede do que nas ruas de minha cidade. Em alguns momentos sinto falta de um face a face. Quando acontece é quase um bônus: cuidei de tudo, as tarefas foram concluídas, aí é um luxo encontrar amigos, conhecidos, tomar um café na padaria da esquina, prosear.

Adoro essa ferramenta e todas as possibilidades que ela proporciona, tento tirar todo o proveito possível e pensar pouco sobre o lixo virtual. A não ser como objeto de estudo, que pode ser interessante, reciclado e bem aproveitado.

É gostoso encontrar amigos que estão do outro lado do oceano, ou mesmo aquela amiga da faculdade com quem acabei de conversar e engrenar em outro papo. É bom ler as principais notícia on-line, mandar um e-mail ou um recado simples para o paquera que anda sumido, só para marcar presença, dizer que sinto saudades. A parte saudável do meio é enriquecedora, o problema são os excessos.

Ainda não tive o prazer de conhecer um casal que tenha selado a união tecnologicamente. Tudo o que chega aos meus ouvidos sobre relacionamentos virtuais vem acompanhado de muita reclamação. Ressaltam a falta de qualidade embora a oferta seja farta, papos ocos, vulgaridade, pouca satisfação e em alguns casos prejuízo para a cabeça e o bolso. Investimento pouco sólido. Há os que considerem mais prático a busca virtual por um parceiro, mas no fim das contas o resultado é parecido com o cotidiano no mundo real. A tendência de repetirmos padrões comportamentais na internet é forte.

Talvez as pessoas andem buscando uma nova chance para minimizar os equívocos, uma "second life" a fim de passar a limpo a própria história. Pode ser.

Sou adepta do meio, tenho meu espaço aqui, sou grata por isso, é uma parte de minha vida. Mas ando espiando pela greta da janela, abri as portas para que o ar circule, aproveitei a pausa da chuva e saí para tomar um solzinho, tirar o mofo. Não quero correr o risco de me tornar uma ilha.


Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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