Após fazer faculdade e duas especializações, cursos de extensão, escrever, interpretar (não muito bem), ler feito condenada, pensar, pensar... Eis que continuo engordando a estatística lamentável dos desempregados no país. E o pior é que tem gente saindo pelo ladrão em situação semelhante. Pessoas que estudaram muito mais, com maior grau de dificuldade, abrindo mão de muitas coisas almejando atingir um objetivo. Pois é, estudo nem sempre dá dinheiro, minha gente. Infelizmente. Não é por isso que iremos deixar de tentar. Sou pró educação, pró leitura, pró autoconhecimento, a favor de tudo o que for melhorar nossa vida. Mas essa escassez de recursos constante é, no mínimo, preocupante. Escassez relativa a minha, já que tenho a oportunidade de trabalhar como freelancer. Após ouvir inúmeros relatos, alguns acompanhados de lágrimas, lamúrias e promessas de mudanças para eco vilas, comunidades alternativas, concluí que seria ótimo se houvesse uma espécie de retorno ao escambo. Em tempos de dificuldades, temos que encontrar novas opções. Dou-lhe uma penca de banana-ouro, você me dá três mamõezinhos papaia, ou quem sabe um par de chinelinhos de couro, uma sombrinha de praia; entrego meu tripé para câmera fotográfica usado e em troca você me arranja uma guirlanda para que eu enfeite minha porta no Natal, um porta revista ou dois copos de requeijão (vazios) para que eu tome meu vinho italiano que acabei de ganhar de amigo oculto. Dei um livro bacanérrimo também! Acho que quase ninguém toparia, mas a sugestão é para tentar auxiliar pessoas que estão passando por adversidades, porque isso faz parte da vida mesmo, é pra lá de trivial. Se tudo isso tornar-se inviável, podemos tentar ao menos, o retorno à solidariedade auditiva. Escute alguém de vez em quando, pode ser um desconhecido mesmo. Outro dia no ônibus um senhor cabisbaixo contou que estava com cinco válvulas no coração (nem entendi bem) e a irmã estava internada, teve trombose. Eu disse a ele que tudo iria melhorar, para erguer a cabeça. Contei que meu avô havia acabado de colocar marcapasso, que meu tio teve isquemia cerebral, que eu era diabética, um pouco surda, além de ter reumatismo. Ele deu um sorriso e aparentemente sentiu-se melhor. Houve quem disse que a dor gosta de companhia. Então, se o escambo não for material, nada impede que coloquemos em prática o escambo fraternal! Todos desabafam, todos escutam. Assim, cada um fazendo sua parte, vamos tentando levar numa boa!
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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