Ligo para a casa de uma querida amiga para saber se o bebê havia nascido. Há duas semanas estive com ela no tradicional “chá de bebê” e sua alegria era evidente. Casa cheia de amigos e parentes, um quarto lotado de presentes, os papos de mães e suas diversas histórias, as expectativas, os últimos e ansiosos dias antes do parto. O telefone chama, ninguém atende. Estão todos no hospital, já deve ter nascido, penso cá com meus botões. Pena que não foi a alegria que imaginei. Não houve sorrisos, esperança, a expectativa de conhecer o novo membro da família, nada disso. O bebê de nove meses saiu silenciosamente do útero e deixou uma lacuna que o tempo, só ele, há de preencher. Saudades do que não houve. O primeiro choro, o primeiro banho, beijos, fotos, lembranças, euforia, noites em claro, aniversários, preocupações, incertezas, felicidade, a vida. Com todos os seus ciclos, seus contrastes, suas possibilidades. A dor de passar por um parto, consciente de que não levaria seu anjo para casa. Todo o esforço, o envolvimento, mas sem a motivação maior que é a vida. Ele precisava deixar seu abrigo para que a mãe continuasse seu caminho. E assim aconteceu. Agora estou aqui, escrevendo para deixar minha homenagem para essa mãe valente e esse filho que não será esquecido. Com muito amor, para Sol e Caio José.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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