Invadem sua vida, entram pela porta da frente, demoram-se nos comentários insalubres. Comem a sobremesa, arrotam, ingratos. Não compreendem os excessos, as explosões, a ira incontida, a aparente insanidade. Reclamam dos gritos, do tom de voz grave, das palavras mal proferidas, das narrativas demoradas. Empenham-se em encontrar defeitos, ressaltam os desajustes e enaltecem a fragilidade. Arrogantes cobertos com a capa compensatória que tenta encobrir os sentimentos de quem traz a alma carregada. Situações regressas mal resolvidas os obrigam a utilizá-las. Não poderiam sobreviver de outra forma. Vivem uma vida inventada. Pensam atuar como protagonistas enquanto fazem figuração. Cruéis, em outros momentos silenciosos, simulacros. Sorriem e viram os olhos sinalizando desdém. Se são surpreendidos fazem caras e bocas, continuam a interpretar. Tolos, mesmo dopada continuo a enxergar. Não sou trinta, sou trezentos. Vocês saem de cena. Eu continuo, atenta, na platéia. O espetáculo acabou de começar.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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