Por favor, fale. Com assertividade, no momento adequado, da melhor forma que encontrar, para restabelecer a harmonia, aparar as arestas, resolver pendências, confidenciar algo que você não aguenta mais carregar sozinho. A não ser os raros paranormais, grande parte da humanidade não tem capacidade de ler pensamentos. Se você não divide o que pensa e sente, o resultado é que algumas amizades são subtraídas, famílias acabam divididas, amores que seriam intensos nem chegam a existir. Fora os que terminam por falta de diálogo, lugar comum, dispensa maiores comentários. Se não tem coragem de falar abertamente, mande um e-mail, uma carta, um bilhete, um telegrama, um papelzinho na garrafa. Mande sinais de fumaça, avise, diga o que precisa, o que incomoda tanto que o faz chorar em comercial de margarina, que faz ter vontade de quebrar aquela linda caneca colorida que ganhou de sua avó só porque alguém deixou leite em pó agarrado no fundo, que faz você criar caso no Natal quando deveria estar em paz, que o faz chorar no chuveiro para que ninguém note, que o faz urrar porque o pai de seu filho esqueceu de comprar um pacote de fraldas, que o faz querer sumir, mas na verdade você continua aí. Por favor, fale.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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