Feito de matéria prima 100% reciclável, o plástico ostenta, segundo fabricantes, o título de ser o mais reciclável dos materiais usados em embalagens. Nessa linha, há quem considere que a utilização do plástico biodegradável é uma solução amiga do ambiente. A primeira vista pode parecer aceitável, mas será que a troca de um plástico pelo outro é a solução para os resíduos das cidades? O lixo urbano é um dos maiores problemas ambientais da atualidade. Os moldes de consumo adotados pela maioria das sociedades modernas provocaram o aumento contínuo e exagerado na quantidade de lixo produzido no planeta. Indevidamente administrado provoca mau cheiro, favorece a proliferação de animais nocivos e transmissores de doenças (ratos, formigas, moscas e mosquitos), polui o solo e o lençol d´água subterrâneo e também o ar, uma vez que é prática comum a queima do lixo em ruas, lotes baldios e lixões. Nesse cenário “biodegradação não é a solução para a questão do lixo urbano. É preciso pensar e refletir mais a respeito do resíduo sólido pré e pós-consumo”, afirma Silvia Rolim, engenheira química e assessora técnica da Plastivida, Instituto Sócio-ambiental dos Plásticos. “O título biodegradável não garante nada para absolutamente nada”, afirma Silvia. O plástico biodegradável requer condições específicas para degradar-se adequadamente e descartado incorretamente pode tornar-se tão nocivo para o meio ambiente quanto o plástico convencional. “Até mesmo uma casca de banana, quando jogada fora em condições erradas, necessita de 1 a 3 anos para se biodegradar. A natureza não faz mágica”, explicou Silvia. Do mito à realidade do plástico biodegradável Na tentativa de minimizar a pegada, alguns fabricantes adicionam amido ou celulose à mistura de plástico para acelerar o processo de decomposição. “Evidentemente, é melhor optar por esses produtos chamados de biodegradáveis, mas a presença de amido ou celulose não é uma garantia de biodegradação em ambientes sem luz e oxigênio”, ressalta Silvia. Mesmo no caso dos biodegradáveis, resta saber no que os plásticos se transformam quando se degradam. Essa dúvida fez a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) declarar que não se pode afirmar que o uso de plásticos biodegradáveis é mais aconselhável que os não biodegradáveis devido ao desconhecimento sobre as novas formas de contaminação que os primeiros podem gerar. O importância dos 3 Rs A reciclagem do plástico representa um avanço na solução de parte do problema da gestão destes resíduos. Ainda assim, trata-se de um material nocivo ao meio ambiente. “A própria produção do plástico já representa uma grande pegada ambiental”, afirmou a engenheira. A matéria-prima para a fabricação desse bem é o petróleo e em seu processo de fabricação é liberado o gás CFC (cloroflúorcarbono), que compromete a camada de ozônio. Fora isso, o plástico, ao contrário do papel, do vidro e do alumínio, não pode ser reciclado indefinidamente. Em outras palavras, mais do que reciclar, é preciso reduzir o consumo de plástico. Não sendo isso possível, “é preciso destinar o resíduo para onde ele seja devidamente tratado ou reciclado”, argumenta a engenheira. Dentre os plásticos que podem ser reciclados estão o polietileno tereftalto (PET), material mais fino com que são feitas as garrafas de alguns refrigerantes; o polietileno de alta densidade, usado na fabricação de embalagens de produtos farmacêuticos e xampus; o polipropileno e o cloreto de polivinila (PVC), muito usado no Brasil em tubulações. A partir deles, são fabricadas mangueiras flexíveis, autopeças, sacos de lixo e uma infinidade de objetos. Para Silvia, a solução integral depende ainda de políticas públicas mais eficientes e mais participação dos cidadãos e empresas. “Qualquer política de resíduos sólidos, isso inclui a utilização ou não de sacolas plásticas biodegradáveis, depende de uma política mais eficiente de coleta e destinação desses resíduos.” Oportunidade jogada fora Num Brasil onde milhões de pessoas ainda vivem abaixo da linha pobreza o país perde aproximadamente US$ 3 bilhões por ano em possibilidades não aproveitadas na reciclagem de lixo. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o cenário dos resíduos sólidos no Brasil indicam desperdício em torno de 40 bilhões de dólares anuais. Isso envolve 35% da produção de hortifrutigranjeiros, 33% de material na construção civil, 20% da produção de grãos por armazenamento inadequado e 6,6% da produção de leite. Veja abaixo a lista dos setores da economia que utilizam o plástico e entenda o peso econômico e o impacto socioambiental desse material. SETOR AUTOMOBILÍSTICO A indústria automobilística européia, utiliza cerca de 2 milhões de toneladas de plástico por ano. A média de aplicação do material por veículo chega a 110 kg. No Brasil, cada veículo utiliza entre 60 e 90 quilos de plástico. No final dos anos 80, a média da aplicação de plástico nos carros nacionais era de apenas 30 kg. SETOR ELETRO-ELETRÔNICO O plástico permitiu a popularização dos produtos, que passaram a ser mais acessíveis aos consumidores. Certas linhas de lavadoras passaram a usar gabinetes plásticos, eliminando etapas da produção como estamparia, funilaria, soldagem, tratamento químico e pintura, proporcionando economia de tempo e otimização do espaço físico. As lavadoras pesam em média 18 kg, sendo 60% em plástico, enquanto as que utilizam chapas de aço pesam, em média, 26 kg. Menos gastos com produção e matéria-prima garantem, ainda, um preço mais acessível ao consumidor. SETOR DE INFORMÁTICA Com peso aproximado de 12 kg, menos de 20% referem-se aos componentes plásticos, distribuídos entre gabinetes, suportes e botões, o que reduz o peso final. Além disso, a alta tensão contida no interior dos equipamentos torna praticamente inviável a aplicação de outro tipo de matéria-prima, como metal ou cerâmica. SETOR DA SAÚDE Estima-se que 2,8 milhões de toneladas de plástico foram utilizadas, em 1997, pela Medicina, sendo que cerca de 770 mil toneladas apenas na Europa. O plástico representa o material mais aplicado na fabricação de produtos da área médica, com participação de 45%. SETOR DE EMBALAGENS O setor de embalagens movimentou R$ 10,9 bilhões no ano 2000. Do total de embalagens consumidas no Brasil, em 97, aproximadamente 25% foram plásticas. Esta participação representa 34,6% do total de resinas transformadas no País. Na Europa Ocidental, o plástico responde por 50% do total do mercado de embalagens. Em 1996, cerca de 10 milhões de toneladas de plástico, referentes a 42% do volume consumido no continente, foram destinados a este segmento. SETOR AGRÍCOLA O plástico na agricultura, aqüicultura e criação de animais, utilizou nos últimos 3 anos, no Brasil, cerca de 100 mil toneladas métricas de plástico. Comparado a países como Israel, Japão, Estados Unidos e Espanha, que usam 50 a 100 vezes mais plásticos na agricultura, o índice brasileiro ainda é baixo. Mas, considerando que, em 1989, o consumo era de apenas 28 mil toneladas métricas, a aplicação do material mais uma vez demonstra enorme potencial de crescimento. SETOR ALIMENTÍCIO 78% dos itens que compõem a cesta básica são embalados com plástico. Esse tipo de embalagens representa menos de 2% de seu custo médio. O material plástico reduz a 4% as perdas de produtos alimentícios e representa somente 7% do peso do lixo doméstico. SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL Estima-se que a indústria de construção civil no Brasil movimente cerca de R$ 130 bilhões por ano, e 10% deste total seja proveniente de produtos plásticos.
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