Dois fatos ocorridos na última semana são um alerta, que nos chega por intermédio dos animais. Pesquisadores brasileiros anunciaram a descoberta de formas de interpretação dos sons de animais. Na reportagem de um canal de TV, um computador traduzia o significado dos sons de porcos, em uma unidade de criação pecuária. A maioria dos ruídos significava dor e estresse. Estranhei que a reportagem não tenha feito referência às condições em que os porcos estavam, presos em pequenos espaços de ferro, sem dúvida uma das razões de seus gritos de sofrimento. Muitos animais na exploração pecuária sofrem limitações de sua liberdade de movimento, não podem se reproduzir, são separados de seus pais ou crias e abatidos com bem pouca idade. Grande parte tem caudas, bicos e órgãos de reprodução removidos ou esterilizados, alguns com bastante dor. Criadores industriais argumentam que cortam as caudas dos porcos e bicos das galinhas porque, como os animais ficam em espaços empobrecidos de estímulos e minúsculos, alguns mal conseguem se mexer e acabam mordendo ou bicando uns aos outros, um comportamento de frustração pela exposição ao estresse. Isso seria evitado se os bichos fossem bem tratados, colocados em alojamentos mais adequados, que respeitassem a sua natureza. Especialistas em psicologia animal descobriram, por exemplo, que porcos são seres inteligentes, afetuosos, sociais, leais e, pasmem, muito limpos! Banhos de lama são para eles atos de higiene e bem estar (adoram limpar-se uns aos outros). Seres humanos lhes despertam curiosidade e afeição, embora sejam, por alguns de nós, colocados em condições tão miseráveis. Devemos todos investigar a origem daquilo que consumimos, parar de comprar alimentos e produtos de empresas que não respeitem os animais, as pessoas e o meio ambiente. Que causem sofrimento e não preservem os direitos humanos e as cinco liberdades básicas dos animais: ser livre de medo e estresse; de fome e sede; de desconforto; de dor e doenças; e ter liberdade para expressar seu comportamento natural. Só quando as pessoas se enxergarem como parte do problema ambiental é que elas poderão ser parte ativa da solução. Os pingüins do desenho animado Happy Feet dançavam para alertar as pessoas de que elas estavam acabando com o seu alimento e fonte de vida da Terra. Muitos pingüins continuam “dançando”, todos os dias, e não estamos prestando atenção. A exemplo dos pingüins-de-magalhães que, em busca de comida, devido ao desequilíbrio ecológico, se desviaram de sua rota, vindo parar nas praias do Sudeste e Nordeste do Brasil e morreram em massa. A mortalidade recorde, recém ocorrida e sem precedentes, de pingüins jovens, com menos de um ano de idade, nas praias brasileiras, é um indicador e mais um alerta desse desequilíbrio e do aquecimento anormal das águas polares e do planeta. Além disso, pingüins e outros bichos também são afetados pelo petróleo derramado no mar e pelas redes de pesca. Alguns dos pingüins que chegaram às costas brasileiras conseguiram serem tratados e já foram devolvidos ao mar, como os que estavam em nosso litoral paulista. Que bom! Poderão continuar a dançar, do seu modo, a fim de nos despertar para a beleza e a diversidade da vida. Temos a responsabilidade de proteger e restaurar a Terra, com o uso sábio dos recursos naturais, o equilíbrio ecológico e novos valores sociais, econômicos e espirituais. Na Terra, lar de todos os seres e da diversidade da vida, o sofrimento humano e animal, a pobreza e a degradação do planeta são causados pela ação humana. Deus tem sido de grande delicadeza conosco, mostrando-nos a esperança que o Universo depositou em nossas mãos. Ainda está em tempo de correspondermos a ela. Nota do Editor: Lúcia Maria Teixeira Furlani é doutora em Psicologia, escritora, Presidente da Universidade Santa Cecília (Santos - SP), Presidente do Santos e Região CV Bureau e Diretora do Semesp.
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