Não restam dúvidas de que a forte queima de combustíveis fósseis por décadas contribui para o aquecimento global, apesar de controvérsias que possa haver. Por isso, pensar na transformação da matriz energética dos países mais importantes poderá ajudar a mitigar esse efeito. Desde o ano passado, com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sede das Nações Unidas, em Nova York, as questões do aquecimento global efetivamente passaram a se integrar à política externa e energética brasileira. Não há momento da história recente nacional em que um tema sobre energia tivesse o poder de aglutinar esforços interministeriais de forma tão intensa. Isto porque o aquecimento global, como ficou patente em vários parâmetros, ocorre por meio da queima de combustíveis fósseis, sobretudo o petróleo, sendo que as sociedades industrializadas, ou não, depende muito dele. Quer dizer, não há nenhuma atividade econômica que prescinda do ouro negro, seja país rico ou pobre. Por isso, há a tendência do aquecimento ainda surtir seus efeitos para o meio ambiente por causa da utilização em larga escala desses combustíveis. Assim, é importante averiguar que há mudança climática em voga, e ela envolve a maneira de como a economia internacional se organiza, dependente em alto grau dos elementos fósseis e naturais de todo tipo, não só para a locomoção do transporte, mas também para uma rede industrial muito grande. E isso alimenta a visão de que só há economia internacional pelo fato de haver petróleo em abundância, situação que vai se alterar certamente cedo ou mais tarde. A participação do presidente Lula nas Nações Unidas vai ao encontro da perspectiva de que o Brasil tem uma importante colaboração a dar nos temas de segurança energética e ambiental. A contribuição nacional se daria com a criação de um combustível relativamente limpo e renovável: o etanol feito de cana-de-açúcar, fonte energética que o Brasil trabalha desde 1975, quando o Programa Nacional do Álcool (PROALCOOL) foi concebido como resposta à crise do petróleo. A industrialização do etanol solucionaria dois problemas urgentes da atualidade. Daria conta da questão de o petróleo ser um bem finito e ajudaria na resolução do aquecimento global, já que o álcool não agrega metais pesados, como chumbo e outros elementos químicos. Há alguns críticos que alertam para o fato do etanol criar um problema de segurança alimentar no País. Porém, a questão não se atribui, por enquanto, à cultura de cana-de-açúcar. O fato é que o problema da fome no Brasil, no caso, acontece por ausência de políticas públicas apropriadas, de distribuição de renda e de emprego. Talvez o uso maximizado do etanol não seja suficiente para mitigar os efeitos do aquecimento global. Contudo, é a contribuição brasileira para um problema que é internacionalizado, não diz respeito somente a uma área do globo, e sua gênese não se deve primeiramente ao Brasil, mas sim aos países industrializados altamente consumidores de petróleo. De fato, se o País tem tarefa a cumprir no campo ambiental é constituir o poder público na floresta amazônica, inibindo o desmatamento, e pesquisar mais os combustíveis alternativos. Nota do Editor: José Alexandre Altahyde Hage é doutor em Ciência Política, consultor do núcleo de Negócios Internacionais da Trevisan Consultoria e professor do curso de Relações Internacionais da Trevisan Escola de Negócios - SP. E-mail: jose.hage@trevisan.edu.br.
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