O aquecimento global, conforme destacou a mídia em todo o mundo, foi um dos temas principais da cúpula do G8 realizada em junho, na Alemanha. No encontro, o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, apresentou sensata proposta para deter as mudanças climáticas, à qual denominou "Cool Earth 50". Discutir com lucidez medidas de combate ao aquecimento global é uma ótima notícia. Melhor ainda é constatar que muitas das sugestões podem colocar o Brasil numa posição privilegiada na economia mundial. Já está comprovada que a temperatura global teve um aumento de 2ºC em relação à média do período pré-industrialização. Para evitarmos uma catástrofe sem precedentes, precisamos, até meados deste século, reverter esse processo. Porém, isso depende de entendimento e ação conjunta dos países. A relutância dos Estados Unidos em adotar compromissos internacionais e metas para estancar o aquecimento global, mais uma vez, quase levou o encontro do G8 ao fracasso. Vale dizer que a resistência dos norte-americanos em aceitar propostas desse tipo, como também do Protocolo de Kyoto, tem forte cunho político. A nação mais poderosa do mundo não quer se submeter à avaliação internacional. Recentemente, pela primeira vez, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, chegou a fazer um reconhecimento público da necessidade de metas, no longo prazo, para reduzir os gases de efeito estufa. Isso pode até ser positivo, mas não é o suficiente. A gravidade da situação exige prazos e medidas concretas. Na proposta de Shinzo Abe, intitulada "Cool Earth 50" - vista como espécie de substituto do Protocolo de Kyoto -, metas de curto e longo prazo são apresentadas para conter o aquecimento global. Na questão de longo prazo, a proposta japonesa sugere o desenvolvimento internacional de novas tecnologias que permitam o crescimento econômico junto com a redução da emissão de gases do efeito estufa. Uma delas refere-se ao aumento da segurança na utilização de energia nuclear, mais eficiência na captação de energia solar e a promoção na utilização das células de energia nos carros, o mais rapidamente possível. No curto prazo, a proposta baseia-se em três linhas: envolver os principais países emissores de gases do efeito estufa na liderança do movimento, particularmente após 2013, quando acaba a primeira fase do Protocolo de Kyoto; flexibilizar as obrigações internacionais pela redução das suas emissões, considerando as capacidades e peculiaridades de cada país; e compatibilizar a preservação do meio ambiente com desenvolvimento econômico. Para os países em desenvolvimento, o Japão compromete-se a fornecer ajuda técnica e financeira. Nesse cenário, é fácil verificar que o Brasil tem características de sobra para participar de forma decisiva nesse processo. Além do nosso enorme (e já reconhecido) potencial de produção de energia limpa e renovável, como o etanol e o biodiesel, temos sol, a maior reserva hídrica e de biodiversidade do planeta, e disponibilidade de mais de 100 milhões de hectares para o desenvolvimento de culturas agrícolas, sem agredir o meio ambiente. Ou seja, tudo o que propõe o Japão passa pelo Brasil (e não existem outras alternativas para o mundo...). Se tivermos inteligência, estratégia e eficácia no aproveitamento dessa grande oportunidade, com certeza teremos dado um gigantesco passo para a conquista do desenvolvimento e da qualidade de vida. Nota do Editor: João Guilherme Sabino Ometto, engenheiro (EESC/USP), é vice-presidente da Fiesp, presidente da Usina São Martinho e membro do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo.
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