Ninguém joga o lixo fora. Apenas mudamos o lixo de lugar
No dicionário encontramos a seguinte definição de lixo: “o que se varre da casa e em geral tudo o que não presta e se deita fora; imundície; ralé”. (Aurélio) O que é lixo para uns, pode não ser para os outros. Os dicionários deveriam rever essa conotação, incluindo na definição de lixo os conceitos de reciclagem. É importante deixar claro que lixo e sujeira são conseqüências da miséria e da indigência; resíduo é inerente ao desenfreado consumismo e às atividades industriais. (Adaptado de um comentário feito por Umberto Eco). Sujeira e resíduo são mazelas sociais que têm suas soluções através da ação política compromissada com o bem estar social, justa distribuição de renda, geração de empregos, saneamento básico e educação ambiental. Há várias categorias de lixo: doméstico, hospitalar, industrial, nuclear e espacial. Cada tipo de lixo tem um grau de perigo, conforme o impacto que causa ao meio ambiente. Os resíduos hospitalares são altamente infectantes e necessitam de prévio tratamento antes de serem incinerados e lançados nos lixões e aterros sanitários. Além da matéria orgânica infectante, eles são compostos de plásticos. Ao queimá-los contamina-se o ar com poluentes cancerígenos. É preciso uma tecnologia específica para esterilizá-los e captar os subprodutos que não podem ser lançados na atmosfera durante a incineração. Cerca de 70% dos municípios brasileiros lançam os resíduos hospitalares a céu aberto, como conseqüência deste descaso com o meio ambiente e com o saneamento básico, os lençóis freáticos (água potável) são contaminados com agentes patológicos (que causam doenças infecciosas e parasitárias). O lixo nuclear é muito perigoso, é um erro afirmar que existe tecnologia 100% segura. Nos sistemas tecnológicos há sempre o fator humano que pode causar falhas operacionais. Foram as falhas humanas que causaram as tragédias de Tchernobyl e Goiás e jamais devemos esquecê-las! Existem cerca de 400 usinas nucleares no planeta, cada uma produzindo lixo radioativo com meia vida de 24 mil anos. Lixo é uma invenção humana, é o lado sombrio e destrutivo da tecnologia e da busca insaciável por conforto. Os outros animais não produzem lixo porque não têm a capacidade intelectual de fazer Tecnologia e Ciência como os seres humanos têm. Alguns símios utilizam galhos de árvores como ferramentas, e não passam disso, não alteram as substâncias naturais para inventar novos materiais como o Homem fez ao inventar o plástico, isopor, pneu, náilon e tantos outros materiais não-biodegradáveis. Animais e plantas fazem excreções e secreções, nós, humanos, além destas substâncias, produzimos resíduos que agridem o meio ambiente por muitos anos. Nunca jogamos o lixo fora, apenas o mudamos de lugar, porque não existe o fora. A natureza não faz trocas com o espaço sideral, estamos num sistema fechado. Toda a poluição traz danos irreversíveis à biosfera. O impacto ambiental apenas pode ser minimizado, e, mesmo assim, sempre colocará em risco o valor vida. Do nascimento até a morte, cada brasileiro produz aproximadamente 15 toneladas de lixo. A população humana tem crescido vertiginosamente, em 2025 seremos mais de 8 bilhões; 94% deste crescimento se deu nos países pobres. Quanto mais seres humanos nascem no planeta, maior será a quantidade de lixo produzida; aumentam-se as necessidades de consumo de água potável e energia, o meio ambiente sofre impactos ambientais cada vez mais intensos. Os países desenvolvidos são os que mais produzem lixo per capita: EUA, 3,5 kg/dia; Itália, 1,5kg/dia e Holanda 1,3 kg/dia. O Brasileiro produz cerca de 1 kg/dia de resíduos. Anaxágoras afirmou “que na natureza nada se cria e nada se destrói” e Lavoiser que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” . Matéria e energia são indestrutíveis. O isopor é uma espuma de poliestireno expandido, esta espuma não é biodegradável. Daqui a 500 anos as embalagens de isopor continuarão a sujar a superfície do planeta. As fraldas descartáveis demoram entre 400 a 500 anos para se desmancharem e, enquanto se desfazem, contaminam os lençóis de água potável com vírus, parasitas e bactérias que estão presentes nas fezes e urina. A Ecologia nos ensina que a relação entre os seres vivos não é linear, mas complexa, em forma de teia. É por isso que um dano ao meio ambiente atinge diversos seres vivos tornando a recuperação de um dano ambiental muita lenta. Uma educação ambiental eficaz ensina ao aluno a pensar globalmente, que tudo está ligado a tudo e que é possível realizar um consumo responsável, comprando-se o que é necessário para a sua sobrevivência, e, principalmente, educa-se a comprar de empresas que investem em responsabilidade social, produzindo objetos de mínimo impacto ambiental, que se responsabiliza pelo resíduo produzido, tanto durante a fabricação, como depois, quando o produto não tiver mais utilidade para o consumidor. O senso humanista inerente à ação educativa ambiental, ensina não somente a importância da reciclagem, mas educa-se para a reprodução responsável, cujo objetivo é a qualidade de vida. É impossível gerar filhos e dar a eles qualidade de vida num meio ambiente poluído e violento. Sem o controle de natalidade caminhamos para o caos sócio-ambiental. É notório que se temos tecnologia aeroespacial, temos tecnologia para acabar com a fome no planeta, falta boa vontade política. O educador deve elaborar e cumprir em aula um excelente plano-político-pedagógico capaz de gerar intensa reflexão nos educandos, com a finalidade futura de termos dirigentes integralmente compromissados com as questões sócio-ambientais. É um trabalho educacional em longo prazo que deveria ter começado nos tempos de Anaxágoras, visto que um dos pilares da preservação ambiental são as Leis da Conservação da Matéria postulada por Lavoisier e que teve sua origem nos filósofos atomistas. Diante de uma nova invenção, basta o inventor fazer uma pergunta: - o quanto esta minha invenção agride a natureza? Diante de um produto à venda, o consumidor responsável deve e pode perguntar-se: eu preciso disto agora? Lamentável que da invenção da Roda, nos primórdios da civilização, somente agora, que o planeta agoniza e estamos diante da possibilidade de extermínio do valor vida, é que urge a preocupação com o impacto ambiental causado pelos resíduos das atividades consumistas. Não há mais tempo a perder, todas causas, conseqüências e soluções são conhecidas, basta uma mudança de comportamento diante dos produtos industrializados que consumimos, da água potável e da energia que usamos. Todos devem e podem colaborar, independentemente de qual seja a profissão, posição social e crença religiosa, a preservação do valor vida é de interesse de todos. Anaxágoras (c. 500 - 428 a.C.), filósofo grego, pré-socrático. Lavoisier (1743-1794), cientista francês. Nota do Editor: Nelson Pascarelli Filho é Escritor da FTD. Diretor da Pascarelli Sciens, consultoria fundada em parceria com alunos superdotados intelectualmente. Consultor Científico-Educacional. Biólogo com Pós-graduação em Microbiologia; Filósofo, Bacharel em Psicologia, Psicanalista. Palestrante do SINPEEM, ECOPLAN, ROTARY CLUB, SIEEESP, AMEESP, ABITEP, APROFEM, SINPROS, OAB, SABESP, Polícia Ambiental, Universidade São Judas Tadeu e diversas Secretarias Municipais e Estaduais de Educação em todo o Brasil. Prof. Titular de Ciências Naturais da SME / SP. Biografia incluída na Wikipédia em educadores brasileiros. 15 livros didáticos publicados e adotados em nível nacional.
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