O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, apresentou na cúpula do G8, em junho, na Alemanha, a proposta de seu país de combate ao aquecimento global. É interessante lembrar que o tema já havia sido indicado como uma das prioridades do encontro pela premiê germânica, Angela Merkel. Os resultados expressos ao final da reunião não foram animadores, principalmente por conta da persistência dos Estados Unidos em exigir que as nações em desenvolvimento também adotem medidas voltadas a mitigar as mudanças climáticas. Esta posição dos norte-americanos foi vista como tentativa de desviar a atenção e enfraquecer a proposição dos países europeus, de evitar o aumento da temperatura global em 2°C em relação à temperatura média do período pré-industrialização. Na prática, significa diminuir as emissões de gases do efeito estufa para valores abaixo dos níveis de 1990, pelo menos, até 2050. O reconhecimento público, pela primeira vez, do presidente George W. Bush da necessidade de metas a longo prazo para reduzir os gases de efeito estufa foi um ponto positivo. Porém, não suficiente, conforme declarou o presidente Lula, presente no encontro. Segundo ele, há necessidade de se conseguir compromissos efetivos antes do vencimento do protocolo de Quioto em 2012. E, em convergência com o discurso do presidente brasileiro, Abe apresentou sua proposta denominada "Cool Earth 50". Com o objetivo de combater o aquecimento global e assegurar um sucessor do protocolo de Quioto, o "Cool Earth 50" compõe-se de metas de curto e longo prazo, inclusive para o próprio Japão, que quer ser um exemplo no combate ao aquecimento global. Na estratégia de longo prazo, busca-se desenvolver a cooperação internacional para descobertas de novas tecnologias que permitam o crescimento econômico e a redução da emissão de gases de efeito estufa. Por exemplo, fortalecendo a confiança e a segurança na utilização de energia nuclear, aumentando a eficiência na captação de energia solar e promovendo a utilização das células de energia nos carros o mais rapidamente possível. Já a estratégia de curto prazo possui três pilares: envolver os principais países emissores de gases de efeito estufa na liderança do movimento, particularmente após 2013, quando acaba a primeira fase do protocolo de Quioto; a flexibilização das obrigações internacionais pela redução das suas emissões, considerando as capacidades e peculiaridades de cada país; e compatibilização da preservação do meio ambiente com desenvolvimento econômico. Para que essa adequação seja realizável, Shinzo Abe defende que se deve promover o desenvolvimento e a disseminação de tecnologias que visem ao desenvolvimento limpo, como a utilização de carros híbridos e uso de baterias de energia solar. Além disso, para os países em desenvolvimento, o Japão compromete-se a fornecer ajuda técnica e financeira. Com a proposta formalização da "Cool Earth 50", novas expectativas recaem sobre o Japão, que será o anfitrião da reunião do G8 em 2008 e, a partir de agora, tem o desafio, proposto por seu próprio primeiro ministro, de conseguir o envolvimento e compromisso dos países mencionados na proposta. Nota do Editor: Alexandre Ratsuo Uehara, professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, é analista político-econômico da Jetro, São Paulo, e presidente da Associação Brasileira de Estudos Japoneses.
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