Em meados do ano passado, o DNIT (Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes) lançou nacionalmente um programa que prometia dar a largada para uma corrida contra o tempo nas estradas brasileiras: o projeto Pro Sinal, que visa trocar e pintar placas e faixas de sinalização em rodovias, além de instalar dispositivos de segurança, como tachas, balizadores e painéis de mensagem. A previsão é que 24 mil quilômetros de faixas sejam recuperados. Se levarmos em consideração que a malha rodoviária nacional é de 1,7 milhão de quilômetros e que, segundo levantamento da CNT (Confederação Nacional do Transporte), cerca de 72% se encontra em condições precárias, temos uma idéia do hiato entre o projeto e a realidade viária nacional. Mas é um começo. O valor do investimento chega na casa dos R$ 278 milhões. Deste total, R$ 137 milhões foram utilizados ainda no ano passado. O restante, previsto para dar continuidade às obras em 2007, ainda não foi liberado pelo Governo Federal. Enquanto os outros R$ 141 milhões descansam em berço esplêndido, nas rodovias brasileiras outras cifras falam mais alto. Pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgada no final do ano passado mostra que o custo com acidentes nas estradas do País chega a R$ 22 bilhões por ano. São mais de 35 mil óbitos em transportes terrestres. Desastres que poderiam ser drasticamente reduzidos caso programas como o Pro Sinal não demorassem tanto para sair do plano teórico e virar realidade. É sabido que a falta de condições adequadas nas estradas não é a única causa de dados tão alarmantes. Mas esta deficiência grave da malha rodoviária brasileira contribui enormemente para que as ocorrências sejam cada vez mais freqüentes. Segundo relatório da Organização Mundial de Saúde, a infra-estrutura viária é apontada como uma das responsáveis por acidentes nas rodovias de todo o mundo. Portanto seria, no mínimo, aconselhável que o Governo Federal tivesse pressa em dar andamento ao Pro Sinal, não apenas porque acredita no valor da vida, mas porque trata-se de uma questão econômica em sua essência. Uma conta simples que mostra, com base na pesquisa Ipea, de que compensa mais investir em melhorias viárias do que pagar a conta de mortes e acidentes. E ainda com dividendo: seres humanos são valorizados nesta nova matemática. O Governo não precisa se comprometer apenas com programas competentes em prol da infra-estrutura das rodovias sob sua responsabilidade. Precisa se comprometer, essencialmente, com empresas fornecedoras idôneas, que saibam da responsabilidade que há por traz de uma faixa, de uma placa de sinalização. Precisa se comprometer com compras bem feitas que se baseiem na qualidade dos itens de segurança que serão adquiridos e não simplesmente no fator preço como único critério de aquisição. O risco é levar no pacote gato por lebre. Nota do Editor: Áurea Rangel é química, mestre em engenharia de materiais para sinalização.
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