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Meio Ambiente
21/03/2007 - 13h03
Dia Mundial da Água, o que comemorar?
Daniel Augusto Maddalena
 

Estamos iniciando um século emblemático para o mundo. O recém-divulgado relatório do IPCC, em Paris, no começo desse ano, aponta um horizonte catastrófico no destino de nossos filhos e netos e das novas gerações que poderão habitar este nosso planeta. Por mais que tenhamos a cultura da economia sobre recursos naturais disseminada e propalada nos quatro cantos do mundo, ainda não a assimilamos de forma efetiva.

E aqui cabe uma ressalva. Tendenciosamente resolvemos apontar este ou aquele país, este ou aquele governo que, pressionado pelo desenvolvimentismo, resolve não adotar em sua política critérios de contenção de degradação ambiental. Na verdade, a responsabilidade é individual, de cada ser humano que habita esta Terra, de cada ser humano que se utiliza do ambiente para sua vida, seja o homem urbano, seja aquele que vive em áreas rurais. É com essa visão que cada um deve comemorar o Dia Mundial da Água, no dia 22 de março.

Qualquer um tem seu quinhão de culpa, mais ou menos estabilizado, no processo de degradação e do esgotamento dos recursos naturais. As grandes fábricas, consumidoras de grandes volumes de energia, geradoras de grandes volumes de gases poluidores ou de produtos que degradam o ecossistema, são responsáveis em termos, pois se não houvesse o consumo de seus produtos elas não existiriam.

Mas aí estabelecemos um grande paradoxo. Se consumimos, impulsionamos uma produção potencialmente poluidora, se não consumimos, perecemos. Na realidade, o mundo moderno estabeleceu uma trajetória, através da necessidade da geração de bens e serviços, insana, pois ao adotar critérios de desenvolvimento desenfreado, jamais se preocupou com o impacto a longo prazo desse modelo para planeta em que vivemos. A bagunça foi feita em nosso próprio quintal e não existe um responsável aleatório ou extraterrestre.

A culpa é nossa, de cada um. E não pense que somos culpados conscientes, pois esses ainda são da pior espécie. Somos culpados pelas atitudes mais estúpidas e banais que, somadas, ocasionam problemas tais como o efeito estufa, o buraco na camada de ozônio, a degradação de mananciais, entre outros mais corriqueiros. Nossa cultura imprimiu um estilo de vida onde, além do canibalismo estabelecido para a sobrevivência financeira, esgotamos diariamente os recursos naturais de nosso mundo, simplesmente para termos automóveis mais bonitos, residências tecnologicamente mais abastecidas, roupas mais sofisticadas.

Pode-se começar pelo pequeno pedaço de papel, chamado comumente de guardanapo, que utilizamos corriqueiramente para limpar a boca. Pode ser também aquele copinho plástico, não retornável, no qual bebemos nosso cafezinho, que em seu processo de fabricação produz também seus resíduos abrasivos. A descarga que damos em nossos vasos sanitários consome água que foi captada, tratada, distribuída e agora, jogada fora. O ar-condicionado que nos permite um pouco de conforto nos dias quentes, para que nossa produtividade laboral possa ser maior, gera um impacto terrível ao consumo de energia elétrica e - com raras exceções - produz gases estufa.

E há outras tantas atitudes de degradação. É o papel que utilizamos para redigir nossos documentos, são as ruas que construímos, impermeabilizando o solo, é a mangueira que mantemos aberta, varrendo nossas calçadas com água, é a rede de distribuição mal projetada e conservada, que gera uma perda de 40% da água distribuída em grandes centros urbanos, é o papel de sorvete que jogamos no chão do parque - poderíamos ficar dias lembrando de cada detalhe de nossa "operação" contra a vida do planeta.

Nossa sociedade foi concebida para se autodestruir, pela fome que tem de desenvolvimento e de manutenção de suas estruturas. Jamais imaginamos que a conta desse processo chegaria um dia às nossas casas. O corporativismo desenvolvimentista tem sua culpa, mas não adianta apontar nessa direção, pois esse responsável é subjetivo e indefinido, difícil de se punir. A nossa consciência, por minimamente que seja alterada, fazendo-nos adotar um novo comportamento, pode ser o definidor da situação do planeta que transmitiremos a nossos descendentes.

Se mudarmos nosso comportamento, vamos alterar também o modelo de vida e de produção, o que garantirá a sobrevivência de nossa espécie. Nosso pior inimigo, é nossa mente. Esse é o mais duro de combater. São séculos de pressões que deverão ser banidas de nosso modo de vida. São séculos de condicionamento dos povos. São séculos de mentiras que criamos para nós mesmos, resultando em apatia perante o gigantesco resultado negativo que isso gerou.

Esperaremos boquiabertos pela nossa própria extinção ou iremos reagir positivamente e recuperar-nos, repensando a sociedade? A decisão de longevidade da raça humana está em nossas próprias mãos. Não sei quanto ao universo de meus leitores, mas gostaria que meus filhos e os filhos de seus filhos pudessem ter o prazer de saciar sua sede, com água pura, de boa qualidade, talvez coletada em uma fonte natural no meio de uma mata qualquer e não com refrigerantes industrializados, quimicamente compostos e ecologicamente incorretos.


Nota do Editor: Daniel Augusto Maddalena é consultor especialista em cooperativismo.

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