Omissão ante aquecimento da Terra poderá consumir 20% do PIB mundial
Quando ambientalistas e negociadores de todo o mundo reuniram-se em Nairobi, no Quênia, em 3 de novembro, iniciando mais uma rodada de negociações da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, as dimensões do problema eram mais sombrias do que em 1997, ano em que foi adotado o Protocolo de Quioto. Ficou claro que a humanidade está sendo derrotada no âmbito das metas desse acordo, de estabelecer, até 2012, redução de 5% na emissão dos gases do efeito estufa nos países industrializados. Para os céticos, recentes medições da Nasa e da Agência Espacial Européia não deixaram a mínima dúvida: o buraco da camada de ozônio sobre a Antártida bateu dois indesejáveis recordes em 2006. O primeiro refere-se ao tamanho desse rombo atmosférico, que atingiu 29,5 milhões de quilômetros quadrados, área 3,5 vezes maior do que a de todo o território brasileiro e quase seis vezes superior à da Amazônia. O segundo recorde diz respeito à perda total da massa de ozônio. Este ano, foram destruídas 40 milhões de toneladas, 200 mil a mais do que em 2000. Diante de dados tão ameaçadores, ganha absoluta e prioritária pertinência o novíssimo "Relatório Stern", o mais completo estudo já realizado sobre as mudanças climáticas. Divulgado dias antes do encontro de Nairobi, encomendado pelo governo britânico e coordenado por Nicholas Stern, ex-economista chefe do Banco Mundial, o trabalho dimensiona com precisão, em irrefutáveis números, uma realidade inexorável: será muito mais caro para a humanidade combater os efeitos do aquecimento global do que evitar seu agravamento. O relatório demonstrou, conforme noticiado na imprensa de todo o mundo, que os gastos para estabilizar a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa seriam equivalentes a 1% do Produto Interno Bruto mundial até 2050. Em contrapartida, a omissão diante do problema ou a simples manutenção dos atuais padrões de emissão de dióxido de carbono (CO2) representaria custo entre 5% e 20% do PIB planetário. Mais do que isto, o estudo adverte que as conseqüências poderão ser irreversíveis caso não sejam adotadas medidas urgentes para inverter os efeitos do aquecimento da Terra. O Protocolo de Quioto, como se sabe, visa a contribuir para mitigar o problema. Os seus mecanismos para redução das emissões são uma resposta tímida ao enfrentamento da questão, mas constituem uma oportunidade de negócio que tem sido utilizada de maneira ainda pouco proveitosa: trata-se da possibilidade de comercializar créditos de carbono, mediante a elaboração de projetos que possibilitem reduzir as emissões daqueles gases. Estes, muito além da perspectiva de lucros para empresas das nações emergentes, são importantes, em escala, para atenuar as ameaças de aquecimento. Assim, seria fundamental que os projetos de carbono se realizassem da maneira correta, para que deixassem de esbarrar em um dos problemas que têm limitado a evolução do mercado de créditos: o volume de novas metodologias aprovadas representa menos de 20% do total submetido à área responsável das Nações Unidas (mais de 130 apresentadas e pouco mais de 23 aprovadas). As elevadas taxas de insucesso estão levando a uma pausa para reflexão por parte dos proponentes de novos projetos, sobre como superar as principais limitações identificadas. O fato de importantes economias, como a dos Estados Unidos, não terem aderido ao Protocolo de Quioto, a lentidão com que se desenvolvem os projetos de crédito de carbono, os dados referentes ao aumento do buraco na camada de ozônio e os incisivos alertas do "Relatório Stern" evidenciam a premência de novas soluções e alternativas. Em curtíssimo prazo, a medida mais viável é acelerar e multiplicar os projetos de crédito de carbono, buscando ajustá-los às metas de redução das emissões. Paralelamente, é necessário atender ao apelo feito pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) às delegações dos 198 países reunidos na Cúpula Mundial do Clima, em Nairobi: que sejam aceleradas as negociações para aprovar um documento sucessor do Protocolo de Quioto. Este corre sério risco de expirar, em 2012, sem que seus objetivos sejam plenamente cumpridos. Seus herdeiros, caso providências não sejam adotadas com urgência, será uma civilização ameaçada pelo aquecimento terrestre e empobrecida pela necessidade de se desviar investimentos produtivos e em saúde, ensino e inclusão social para uma desesperada reparação dos danos ambientais. Nota do Editor: Eugenio Singer, empresário e ambientalista, é sócio fundador da ERM Brasil e do Instituto Pharos e membro do Comitê Idealizador do Instituto DNA Brasil.
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