Já não existem mais dúvidas no âmbito científico que as mudanças climáticas estão em curso são provocadas ou atenuadas em grande parte pelo nosso modelo civilizatório e requerem uma ação rápida e de grande escala. As mudanças necessárias devem agir sob a maneira de viver, produzir, consumir, descartar e se locomover de praticamente toda a população do planeta. Embora haja uma ampla discussão entre cientistas e políticos, a maioria das pessoas sequer compreende do que se está falando. Grande parte da população desconhece as conexões existentes entre a emissão de gás carbônico de seu carro, por exemplo, e o aumento da temperatura da Terra; a falta de chuva e a desertificação em uma parte do mundo; os ciclones e as inundações em outra. A população, em seu senso comum, desconhece as ameaças ao setor de saúde pública que o aquecimento global pode significar. A migração de vetores de doenças é ignorada pela maioria, e piores ainda são outras conseqüências da migração climática, como o superpovoamento, a favelização e a violência urbana nas grandes metrópoles. O aquecimento global é cumulativo, complexo e abrangente e já vem demonstrando sua força ao causar mudanças cada vez mais significativas na temperatura global, o que mostra que suas conseqüências afetarão todos em todos os lugares. Para minimizar o problema, o envolvimento e a participação popular torna-se condição fundamental. Mas também é de fundamental importância que se procure associar a solução deste problema global à ação local, diminuindo o sentimento de impotência das pessoas diante da dimensão dos problemas sócio-ambientais. São tantas as atitudes que podem ser estimuladas de modo a fazer com que se diminua as emissões e aumente a captura dos gases responsáveis pelo aquecimento global, estabelecendo-se, desta forma, um círculo virtuoso onde cada um e todos se sintam fazendo parte de uma imensa rede de luta pela vida com qualidade em nosso Planeta. Podemos, por exemplo, dar preferência ao uso de automóveis menos poluentes, com combustíveis alternativos, até exercer pressão sobre os governantes para a adoção de um sistema público de transportes eficiente e limpo, como ônibus elétricos, metrôs e trens. Além disso podemos tomar uma série de atitudes, como: · Minimizar a produção de resíduos, passando pela coleta seletiva e reciclagem até a pressão política pelo fim dos lixões e aterros e pelo estímulo ao fabrico de embalagens reutilizáveis; · Contribuir com a permeabilização dos espaços urbanos, começando pelo quintal de sua casa ou de seu condomínio, passando pela sua calçada até o plantio da mata ciliar do córrego ou rio mais próximo; · Economizar no uso da água e da energia e buscar fazer parte de organismos de pressão política pelo barateamento e uso intensivo de fontes alternativas e limpas de energia como a eólica, solar, de biomassa entre outras; · Lutar pela eliminação absoluta do hábito da queima de lixo em cada casa até o combate sistemático as queimadas e desmatamento em sua rua, sua cidade etc. Infelizmente os últimos estudos têm demonstrado que ao mesmo tempo em que se pesquisa novas tecnologias para diminuição das emissões e para a captação dos GEE (Gases com Efeito de Estufa) é necessário e urgente pensar em como os seres humanos vão adaptar suas estruturas físicas, seu modo de produção às novas condições climáticas que se aproximam. Este processo, chamado de adaptabilidade, já é foco de preocupação e estudos de pesquisadores em todo o mundo. Nota do Editor: Miriam Duailibi é presidente do Ecoar, uma das principais ativistas ambientais brasileiras da atualidade. Autora de diversos livros, artigos e textos sobre o tema é reconhecida internacionalmente por seus inovadores projetos socioambientais. Fundou em 92 a Ecoar, organização sem fins lucrativos da qual faz parte o Instituto Ecoar para Cidadania, o Centro Ecoar de Educação para Sociedades Sustentáveis e o a Associação Ecoar Florestal, responsável pela produção anual de 2 milhões de mudas para a reposição de florestas no Brasil.
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