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Meio Ambiente
14/10/2006 - 06h09
Profecia autocumprida
Marco Fabiani - Pauta Social
 
Humanidade desperdiçou recursos que a natureza disponibilizou

Desde o início dos anos 80, quando cientistas do mundo inteiro alertaram para os riscos ambientais do aumento da concentração dos gases causadores do efeito estufa na atmosfera, a humanidade não pode dizer que desconhece os problemas advindos de um crescimento desenfreado, que ignora a desastrosa interferência no equilíbrio natural do meio ambiente. É bem verdade que, naquele início, cientistas hoje respeitados exatamente por aqueles alertas eram, não raro, vistos como ingênuos profetas de um apocalipse que nunca viria porque, argumentavam seus detratores, a própria natureza se encarregaria de fazer os ajustes necessários para que o equilíbrio voltasse.

Ao contrário, mais de duas décadas depois, as que eram consideradas "ingênuas profecias" estão tristemente se concretizando e a humanidade está sentindo na pele - literalmente - os efeitos da má utilização dos recursos que a natureza disponibilizou para o desenvolvimento humano. Este desenvolvimento, cansou de alertar os cientistas, teria de ser racionalmente sustentado. Infelizmente, não foi o que ocorreu e estamos assistindo, estarrecidos, a catástrofes maiores a cada temporada.

Os fenômenos atmosféricos são apenas a parte visível dessas profecias autocumpridas. A atual onda de calor que se verifica no Hemisfério Norte é um desses exemplos. Mais de 200 pessoas já faleceram, apenas na França, em razão do calor insuportável que alcança uma sensação térmica para além dos 45º Celsius. Nos Estados Unidos, mais especificamente na Califórnia, as vítimas do calor intenso já ultrapassam a casa de 150 pessoas. Isto, sem falar no estranho, seco e intenso veranico pelo qual passou o Brasil durante um tempo longo e inusitado, em pleno inverno.

Lamentavelmente, esses números trágicos estão dando credibilidade inquestionável aos alertas que no passado se fizeram ao uso descontrolado e crescente de combustíveis fósseis que resultaram no que hoje todos reconhecem como efeito-estufa. O aumento paulatino das temperaturas, as catástrofes atmosféricas como os furacões, o evidente e extremamente preocupante derretimento das calotas polares no Ártico, enfim a série de fenômenos provocados pela interferência humana no meio ambiente já têm suas causas identificadas. E, mais do que isso, já foi possível estabelecer um ranking bastante apurado de quais são os grandes vilões e, principalmente, os países que mais causam os problemas que a humanidade enfrenta.

Apenas para ilustrar, as estimativas mostram que os Estados Unidos causam 25% dos efeitos maléficos dos gases-estufa, a China, com seu recente e comemorado desenvolvimento econômico, é uma grande preocupação, e o Brasil, com as queimadas que não cessam na Amazônia para transformar florestas milenares em áreas recentes de soja, também tem uma grande contribuição.

O lado positivo disso tudo (se é que há um lado positivo nas catástrofes) é que a humanidade está, quase na marra, se conscientizando de que medidas urgentes têm de ser adotadas para evitar o recrudescimento das conseqüências de sua própria imprudência. Ninguém com uma informação mínima torce hoje o nariz nem se atreve a chamar de romântico um alerta sobre os danos que o homem vem causando ao meio ambiente.

Mas, à medida que avança o conhecimento sobre os efeitos da poluição, mais preocupante são os alertas. Por exemplo, o ozônio, gás reativo e oxidante, é fundamental na estratosfera. É ele que forma uma barreira aos raios ultravioletas que, sem isso que podemos chamar de filtragem, causaria danos terríveis, como o aumento do câncer de pele nas populações.

Ocorre que as concentrações de ozônio, quando mais próximas da superfície, são extremamente danosas. Essas concentrações têm aumentado principalmente devido às emissões de veículos automotores e de indústrias. No Brasil, por exemplo, nas poucas cidades onde se faz monitoramento do ar, tem-se verificado que o ozônio é um dos poluentes cujas concentrações ambientais estão ultrapassando muito os limites estabelecidos nas legislações.

Apenas na cidade de São Paulo, onde são licenciados cerca de mil carros por dia, são lançados a cada três meses precursores de ozônio em quantidades equivalentes às de um ano de funcionamento de uma termoelétrica! De difícil controle devido à complexidade de sua formação, o ozônio é considerado o maior poluente fitotóxico existente. Pesquisas nos Estados Unidos já demonstraram que altas concentrações de ozônio provocam redução de colheitas, além de limitar o crescimento de árvores, uma vez que inibe a fotossíntese. Em humanos, os danos não são menores: irritação nas vias respiratórias, dor de cabeça, tontura, cansaço e tosse são apenas alguns de seus malefícios.

Um levantamento recente feita pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) concluiu que o aumento de 1 miligrama na concentração dos poluentes atmosféricos, como o ozônio, resulta em um acréscimo de 3% na morte de idosos e de 4% no número de crianças hospitalizadas. E outros estudos revelam que a cidade de São Paulo gasta até U$ 4 bilhões todos os anos com internações hospitalares causadas pela poluição.

Estes números mostram de modo inequívoco: não é preciso ser economista para constatar que o custo de se desconsiderar a ação de um poluente como o ozônio pode tornar-se insuportável para as sociedades em alguns anos. Diante disso, só resta esperar que esta não seja mais uma profecia autocumprida.


Nota do Editor: Marco Fabiani é líder do Grupo de Gestão da Qualidade do Ar da América Latina e sócio-gerente da ERM (Environmental Resources Management).

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