Como produzir e gerar inclusão social, garantindo ao mesmo tempo a preservação do meio ambiente? Esta foi a grande questão debatida no dia 30/6 no painel temático Responsabilidade Social e Sustentabilidade, durante a Conferência Nacional 2004, que o Instituto Ethos realiza em São Paulo. O professor Fernando Fernandez, professor do departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse que as grandes ondas de devastação ambiental coincidem com a chegada do homem a cada ecossistema. "A ação humana resultou na destruição de quase toda Mata Atlântica e na desertificação de regiões como o Líbano e a Grécia". Segundo ele, esse processo hoje é mais perverso. "As imagens de satélite produzem a ilusão de que ainda temos muita vegetação primária. Esses registros fotográficos não conseguem captar a extração de espécies vegetais em extinção nem o extermínio da fauna", explicou. A ameaça sobre a fauna ampliou-se substancialmente nos últimos 20 anos, segundo Fernandez, em razão da caça predatória. Além de serem meio de subsistência de populações da floresta, seu produto é rentável. O mau uso da terra também foi apontado como um grave problema, seja nos pastos para a pecuária, seja na produção agrícola. Para Fernandez, os projetos de desenvolvimento sustentável erram muitas vezes por olhar somente para a conservação ambiental que interessa imediatamente ao ser humano. Com isso, não interrompem o processo de extinção das espécies nem garantem a possibilidade da continuidade da vida no planeta. Já segundo Fernando Almeida, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro pelo Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a saída para a situação atual só pode ser obtida por uma sociedade que baseie suas atividades na sustentabilidade econômica, social e ambiental. "Não é possível interromper o consumo dos recursos naturais. No entanto, desde a publicação do relatório ’Nosso Futuro Comum’, da ONU, em 1987, o mundo tem avançado significativamente", ressaltou. Essa evolução já chegou ao segmento mais dinâmico do capitalismo global: o mercado de capitais. "Mesmo no mercado financeiro, as empresas mais bem avaliadas são as que inserem as questões sociais e ambientais em sua produção. O índice Dow Jones Sustainability comprova isso", afirma Luiz Augusto Barcellos, superintendente de Coordenação Ambiental e da Qualidade da Cemig. Para ele, já existe um consenso em torno do conceito de desenvolvimento sustentável, onde a sociedade exige que as empresas não poluam e que minimizem os impactos ambientais na produção. "As empresas começam a estimular outras companhias a trabalharem respeitando o meio ambiente". Tal conceito hoje é imprescindível para qualquer empresa, na visão do presidente da Amanco, Ronald Jean Degen. "Conceitos como ecoeficiência garantem preservação ambiental, mas também são importantes economicamente. A empresa que hoje não atua perseguindo resultados sociais, ambientais e econômicos não consegue se sustentar em longo prazo", argumentou. A necessidade de mudar o paradigma de relacionamento com o meio ambiente é a única saída para Fernando Fernandez. "Para reverter a atual situação, devemos começar por iniciativas individuais, no ato de consumir, de selecionar produtos e fazer nossas escolhas em geral", explicou.
|