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SEÇÃO
Meio Ambiente
07/09/2006 - 06h10
Mais um passo para a sustentabilidade
Eugênio Singer - Pauta Social
 
Consciência do problema da questão ambiental está mais ampliada

A consciência de que a questão ambiental é o principal problema do século 21 está cada vez ampliada, apesar da resistência de alguns países, como os Estados Unidos e a Austrália, de aderirem ao Protocolo de Quioto. Dentre outras razões, essa conscientização dissemina-se porque, ao contrário do que ocorria no passado, organizações, entidades e instituições do mundo todo estão capacitadas a medir com muita precisão os prejuízos causados por fenômenos como o aquecimento global.

Por exemplo, um estudo da Fundação Re de Munique, da Alemanha, revelou que as perdas atribuídas a desastres diretamente relacionados à elevação da temperatura na Terra, furações violentos como o Katrina, tempestades tropicais e secas em regiões como a Amazônia ultrapassaram os US$ 200 bilhões em 2005 - valor quase 40% superior ao apurado pela mesma instituição em 2004. A fundação também estimou que, em 2005, investimentos que desconsideraram a questão ambiental amargaram prejuízos de mais de US$ 280 bilhões em diversas operações financeiras.

Por outro lado, da mesma forma que podem ser medidos os prejuízos causados pelas questões ecológicas (ou por sua desconsideração), é factível mensurar os lucros de empresas que levam em conta os efeitos de seus projetos no meio ambiente. Passo crucial nesta direção foi o recente lançamento do projeto da ONU conhecido como Princípios para o Investimento Responsável ou PRI (sigla em inglês de Principles Responsible Investment). O PRI, elaborado no âmbito da Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (mais conhecido mundialmente pela sigla Pnuma), já soma recursos superiores a US$ 4 trilhões, total representado pela adesão ao projeto, na Europa e nos Estados Unidos, de 50 dos maiores investidores em fundos de diversos países.

Esta adesão ao PRI demonstra que há um consenso em torno de se conduzir os investimentos para projetos responsáveis tanto do ponto de vista social como de meio ambiente. O resultado é que, cada vez mais, os grandes investidores levam em consideração políticas de investimento que contribuem para a sustentabilidade ambiental e tenham impactos sociais positivos. Em outras palavras, há um convencimento crescente de que dá lucro investir em projetos que possibilitem minimizar os danos dos empreendimentos ao meio ambiente. Este conceito explica porque um número maior de empresas busca cada vez mais aderir ao mercado de crédito de carbono, previsto no Tratado de Quioto.

Trata-se de um mercado que possibilita a países e empresas poluidoras compensar os danos que causam ao meio ambiente adquirindo créditos de carbono de companhias cujos projetos permitem reduzir a emissão dos gases que causam o efeito estufa. O Brasil tem muito a lucrar com o mecanismo de crédito de carbono. Enquanto os Estados Unidos liberam no ambiente o equivalente a 20 toneladas de gás carbônico per capita anualmente, e na Europa este número alcança 15 toneladas per capita anuais, o Brasil gera apenas uma tonelada de gás carbônico por habitante em um ano.

Ou seja, as empresas instaladas no Brasil podem lucrar muito com o mercado de créditos de carbono, em visível expansão, se introduzirem em suas plantas e projetos melhorias que resultem em limitação de emissão de dióxido de carbono e outros gases causadores do efeito estufa. Muitos investidores e empresários brasileiros já perceberam as vantagens de entrar no mercado de crédito de carbono. Por exemplo, a Petroquímica Braskem está bastante adiantada no seu projeto de redução de gases em suas 13 plantas industriais.

O projeto prevê a redução, nos próximos três anos, de um milhão de toneladas de gás carbônico por ano, ou cerca de 20% no total das atuais emissões de suas unidades. Com isso, deve lucrar cerca de US$ 10 milhões por ano, já que cada tonelada vale hoje perto de US$ 10 no mercado internacional de crédito de carbono.

Exemplos como este demonstram que, mesmo com a resistência de alguns países de aderirem ao Protocolo de Quioto, os mecanismos previstos no tratado começam a pegar justamente por mexer com a parte mais sensível do ser humano: o bolso. Trata-se de uma boa notícia para os que consideram a sustentabilidade uma condição fundamental para a continuidade do desenvolvimento.


Nota do Editor: Eugênio Singer é empresário, membro do Conselho de Administração e diretor para a América Latina da ERM Brasil. Dirige o Instituto Pharos, ONG dedicada à defesa da costa brasileira.

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