Uma pesquisa mundial indica que o país é o único, entre os 10 principais emissores de gás, a reconhecer a seriedade do problema
O Brasil e outras seis nações latino-americanas lideram na percepção apocalíptica sobre o rumo ambiental do planeta. Pesquisa da Market Analysis, em parceria com o instituto canadense GlobeScan, situa o país em sétimo lugar entre os 30 consultados acerca da gravidade das mudanças climáticas. Em três anos, o percentual de brasileiros que admitem que o efeito estufa, como síntese das mudanças climáticas e do aquecimento global, é um problema muito grave subiu de 74% em 2003 para 78% neste ano. Em 19 dos países que participaram do estudo, essa percepção hoje é compartilhada por quase dois terços (65%) de sua opinião média, o que representa um recorde histórico da apreensão gerada pelo assunto. Há três anos, o índice era de 49%. "Essa evolução sinaliza a crescente e rápida preocupação com o aquecimento global nos últimos tempos. Governos e empresas que abracem a causa ambiental de maneira genuína e com efeitos no curto prazo certamente receberão o apoio das suas comunidades", comenta Fabián Echegaray, diretor da Market Analysis. Dentre as dez nações consideradas as principais emissoras de gases do efeito estufa, o Brasil é a única que mostra uma maioria absoluta da população extremamente preocupada com o problema. Nas demais (Estados Unidos, Rússia, China, Índia, Indonésia, Japão, Alemanha, Malásia e Canadá), a opinião pública está menos convencida da seriedade da questão. Colocando lado a lado os principais países responsáveis pela emissão de gases do efeito estufa (incluídos os originados de queimadas e atividade agropecuária) e a indicação de sensibilidade que sua população demonstra ter sobre o assunto, o que emerge é uma imagem de relativa falta de importância do tema justamente para aqueles que, hoje, mais contribuem para agravá-lo. Daí se conclui que os governantes da maioria dessas nações não devem sentir-se pressionados pela opinião pública a mudar a política econômica e ambiental - de fato, devem sentir o contrário. Apesar de ter evoluído em relação à sensibilidade sobre o problema, o público dos Estados Unidos continua a ser o que mais resiste à idéia do aquecimento global, legitimando assim a recusa em assumir compromissos. Um em cada cinco americanos (21%) consideram o efeito estufa pouco ou nada sério. "Isso mostra que a batalha pelos corações e cabeças dos americanos, principais poluidores do planeta, não pode se basear apenas em divulgar informações. Hoje, o que sobra é justamente informação, mas ela está longe de se tornar consciência ambiental", diz Echegaray. O paradoxo de que os países latino-americanos, que estão entre os menos poluidores (com a única exceção do Brasil), sejam os que mais preocupação demonstram, aponta para a crescente ansiedade gerada pelas mudanças climáticas entre aqueles que podem vir a sofrer seus efeitos: tufões na América Central, derretimentos glaciais no Chile e Argentina etc. "A opinião pública parece começar a sensibilizar-se sobre o assunto, embora sinta que só uma parte limitada da solução depende dela. Afinal, nem governos, nem empresas, mídia ou sociedade civil organizada conseguem impedir queimadas de florestas e uma expansão anárquica das fronteiras agrícola e urbana em detrimento da Mata Atlântica e da Amazônia", avalia o diretor da Market Analysis. Nos países europeus, o temor é pela chuva ácida e a alteração nas temperaturas e no ciclo de chuvas.
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