O tema é antigo, mas sempre atual e urgente. O uso de drogas e o conseqüente sexo inseguro são assuntos tratados amiúde nas escolas, no ambiente familiar, em consultórios de psicologia. Pesquisas comprovam a importância da discussão permanente: um em cada quatro jovens mantém um consumo considerado de risco pela OMC - Organização Mundial da Saúde, segundo pesquisa realizada no ano passado pelo Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes) da Universidade Federal de São Paulo, Unifesp. Todos buscam maneiras equilibradas de prevenção, mas um fato é consenso. Quanto mais informação, melhor. O adolescente informado terá mais condições de tomar suas decisões e sofrer as conseqüências de tais decisões. Nesse sentido, o papel da escola como difusora de informação é indiscutível. Sempre em parceria com a família! De maneira criativa e nada moralista, o Colégio Magno trouxe a pauta para seus alunos de 8ª série. O projeto de nome sugestivo "Baladas" transformou alunos em repórteres, psicólogos e biólogos. Três tipos de balada foram pesquisadas pelos estudantes: rave, funk e black. Os "jornalistas" entrevistaram pais de adolescentes, e tiveram depoimentos surpreendentes. "Eles não tinham noção do tamanho da preocupação dos pais, quando o assunto é balada", conta a coordenadora pedagógica do Magno, Maria Raquel Campos. "Fiquei encarregado de estudar as bebidas e comidas que são servidas nas festas. A bebida mais consumida é a vodca, que a galera mistura com sucos de fruta. Também vimos que a ressaca das bebidas destiladas é a mais forte, e que é importante intercalar todo consumo de bebida alcoólica, com um copo d´água. Sair de casa de barriga cheia, e ainda tomar uma colher de azeite antes de começar a beber, também é aconselhável" conta o "biólogo" Vinícius Carvalho, que estudou as baladas do funk. Já a "psicóloga" Marília Mastrocolla foi saber o que acontece com quem fica de doze a 20 horas numa rave. "Aprendi que nenhum organismo agüenta tanto tempo. Tem que segurar o pique com alguma droga", conta a estudante. Segundo ela, em entrevistas com psicólogas, soube que os jovens freqüentadores das famosas raves têm o comportamento alterado porque se integram à massa e deixam o comportamento do coletivo vir à tona. "Fazem as loucuras, e no dia seguinte vem a angústia", revela. A droga mais consumida e que chamou a atenção dos pesquisadores foi o ecstasy. "Vimos que essa droga eleva a temperatura do indivíduo a 42 graus. E é por isso que tomam tanta água, porque sentem sede e precisam se hidratar", conta um dos estudantes. "O delírio que os consumidores do ecstasy dizem alcançar, é derivado da febre alta", diz outro estudante. Esse projeto aconteceu no final do ano passado e terá continuidade em 2006. Para a psicóloga especialista em adolescente, Eponina Carvalho, é importante que os pais prestem atenção em seus filhos. "Existem alguns sinais que indicam que o adolescente pode estar consumindo drogas, como emagrecimento, hipertensão, letargia, sonolência", relata. Outros sinais no que diz respeito à cognição como alteração da capacidade de concentração e atenção também podem ser indícios da utilização de drogas. Segundo ela, vale ressaltar o seguinte: alguns experimentam uma única vez, outros fazem uso ocasional, sem grandes conseqüências e apenas uma minoria se torna dependente. "Os pais não precisam se apavorar. O adolescente tem uma característica própria de transgressão, faz parte de seu desenvolvimento. Isso não quer dizer que devemos abandoná-los à própria sorte", alerta. Outro colégio em investir na prevenção é o I. L. Peretz. Lá, o trabalho está inserido em uma proposta global de promoção à saúde do adolescente, em que o uso de drogas é um dos componentes. A alimentação desregrada, a falta de opções de lazer, o sedentarismo e a automedicação são alguns dos outros aspectos trabalhados. Dentro do projeto, denominado PrevPeretz, compete aos professores a disseminação do conhecimento, por meio de uma abordagem desprovida de julgamentos de ordem moral. Para a coordenadora do projeto, Evelina Holender, é preciso evitar uma ação improvisada e episódica. "Criar ações sistemáticas e planejadas, coordenadas por profissionais com qualificação é a forma que encontramos para um resultado significativo", garante. "É importante mostrar a eles o que acontece, que existem várias maneiras de se viciar, até em café e chocolate, como ’muletas’ para enfrentar as pressões da vida. Até o exercício físico pode viciar, porque envolve a liberação de dopamina. Ninguém suporta a existência sem essas ’muletas’. O que procuramos é dar informações para que os alunos possam fazer escolhas certas", afirma o professor de química, Caio Gracco Tieppo, um dos responsáveis pelas atividades com os alunos. Neste ano, os alunos vão estudar, entre outros vários assuntos, o Narguilé, espécie de cachimbo usado por hindus, persas e turcos, que mistura tipos de fumo e água perfumada, pela qual passa a fumaça antes de chegar à boca. "Os alunos pensam que seu uso envolve menos substâncias tóxicas que o cigarro e, por conta disso, tem havido um acréscimo no consumo", conta.
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