Velejadores cuidam dos últimos preparativos para a largada de segunda-feira na Cidade do Cabo
| Hector Etchebaster / Brasil 1 | | | | Canecas que serão usadas pelos tripulantes. |
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Cidade do Cabo (África do Sul) - Vice-líder na classificação geral da edição 2005/2006 da Volvo Ocean Race, o Brasil 1 está pronto para a disputa da segunda etapa da competição, que terá largada às 9 horas de Brasília desta segunda-feira. O tiro de partida será dado numa área ao norte de Granger Bay, na Cidade do Cabo, e a flotilha de sete barcos terá o desafio de completar os mais de 11.100 quilômetros até Melbourne, na Austrália. Com a mudança de rota (a descida para o Sul deve ser limitada a 42 graus de latitude), os barcos não vão pegar situação tão extremas como o inicialmente previsto. Os organizadores resolveram determinar um limite por questões de segurança, já que o monitoramento via satélite dos mares do Sul indica a existência de muitos icebergs, produtos do aquecimento global. Mesmo assim, os brasileiros esperam muitas dificuldades nesta etapa, principalmente com o frio de menos de 10 graus centígrados e muita água no convés o tempo todo. “Trabalhar molhado e no frio não é nada bom. Mas a equipe está bem motivada com os resultados obtidos até agora e com o segundo lugar na classificação geral. Estamos conscientes também que não temos experiência neste tipo de competição e vamos tomar os cuidados necessários para velejar da melhor maneira possível”, comentou o comandante Torben Grael, do primeiro barco brasileiro a participar da mais tradicional regata de volta ao mundo. Contra a falta de experiência, o Brasil 1 terá dois reforços nesta etapa, que conta com dois portões de pontuação (nas ilhas Kerguelen e na ilha Eclipse): o timoneiro norueguês Knut Frostad e o navegador holandês Marcel van Triest, especialistas nos mares do Sul. Depois de nove dias de um trabalho exaustivo, Marcel, de 41 anos, que estreará na sua quinta regata de volta ao mundo, acha que está conhecendo melhor a estação de navegação do Brasil 1. “Claro que nunca é ideal chegar em um projeto como esse tão tarde. A estação foi projetada e ajustada para outra pessoa, mas acho que estou pegando o jeito” comenta o experiente velejador, que mora na Espanha. “O importante foi descobrir como tudo funciona, onde está cada equipamento, como foram montados os sistemas eletrônicos e como mexer nos programas.” Para o novo navegador, o fato de o Brasil 1 não ser favorito para vencer a etapa é positivo. “Uma das grandes forças do nosso barco é que não somos os favoritos para nada. Não temos o maior orçamento e esta é a primeira participação nesta competição”, lembrou o holandês. “É claro que os resultados até agora foram bons, mas não existe a pressão para vencer a etapa. Só o que queremos é chegar em Melbourne com tudo inteiro e sem problemas para continuar na prova. É claro que vamos tentar vencer.” Os mares dos Sul serão novidades para todos os brasileiros, inclusive para Torben Grael, que só passou na região num cruzeiro marítimo. Por isso a expectativa é grande. “Estamos levando roupas pesadas para suportar o trabalho no frio e debaixo d’água”, comentou o catarinense André Fonseca, radicado em Porto Alegre. “Procurei ler livros e ver vídeos sobre os desafios desta região e acho que estou preparado para o pior.” A tripulação, aliás, tem de estar bem preparada. O espanhol Chuny Bermudez é o responsável pelos itens de segurança do barco, que já foram checados e rechecados. “No Brasil, se um tripulante cair na água pode esperar até 3 horas pelo resgate. Nos mares do Sul, morre-se depois de 10 minutos”, disse o timoneiro, de 35 anos, atual vice-campeão da Volvo com o sueco Assa Abloy. Réveillon – Os velejadores vão abastecer neste sábado o Brasil 1 com todo o material necessário para os esperados 15 dias de viagem até Melbourne. Velas, roupas, comida, material de salvatagem e outros equipamentos de navegação serão embarcados durante todo o dia. À noite, assim como ocorreu no Natal, todos os integrantes da equipe vão se reunir para comemorar a chegada do Ano Novo num restaurante em Waterfront, uma bonita área turística na Cidade do Cabo. Muitos velejadores contam com a companhia de familiares. A festa será uma pré-despedida. A equipe terá dia livre no domingo e segunda-feira começa a etapa da África rumo à Oceania. Além de Torben Grael, André Fonseca, Marcel van Triest, Knut Frostad e Chuny Bermudez, a tripulação terá os brasileiros Kiko Pellicano, Marcelo Ferreira e João Signorini, os neozelandeses Stuart Wilson e Andy Meiklejohn. O ABN Amro One, vencedor da primeira etapa e líder da competição, entra na segunda perna com o objetivo de quebrar novamente o recorde de singradura (milhas velejadas em 24 horas). Na primeira perna, o barco do comandante Mike Sanderson velejou 546 milhas náuticas, ou cerca de 1.011 quilômetros. O Brasil 1 também quer melhorar as 484 milhas velejadas num dia (cerca de 896 km). Nesta edição, a Volvo Ocean Race terá oito meses e os competidores navegarão por 31.250 milhas náuticas, mais de 57 mil quilômetros. A regata começou no dia 5 de novembro, com uma prova local em Sanxenxo, na Espanha. A primeira perna teve largada em Vigo, também Espanha e chegada na Cidade do Cabo. A competição passa ainda por Melbourne (Austrália), Wellington (Nova Zelândia), Rio de Janeiro (Brasil), Baltimore, Annapolis e Nova York (Estados Unidos), Portsmouth (Inglaterra), Roterdã (Holanda) e Gotemburgo (Suécia). O Brasil 1 tem seis concorrentes de cinco países: os barcos holandeses ABN Amro 1 (comandado por Mike Sanderson/NZL) e ABN Amro 2 (Sebastien Josse/FRA); Ericsson Racing Team (Neil McDonald/ING), da Suécia; Piratas do Caribe (Paul Cayard/EUA), dos Estados Unidos; movistar (Bouwe Bekking/HOL), da Espanha; e Sunnergy and Friends (Grant Wharington/AUS), da Austrália. A classificação geral da Volvo Ocean Race, após a disputa da segunda in-port race, ficou assim: 1º ABN Amro One, com 15 pontos; 2º Brasil 1, 12,5; 3º ABN Amro Two, 12; 4º Ericson, 11,5; 5º movistar, 6; e 6º Piratas do Caribe e ING Brunel, 5 pontos. O Brasil 1 é patrocinado por VIVO, Motorola, QUALCOMM, HSBC, Embraer, ThyssenKrupp, NIVEA Sun, Ágora Senior Corretora de Valores e Governo Brasileiro através da Apex (Agência de Promoção das Exportações do Brasil), Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior, Ministério do Turismo e Ministério dos Esportes e apoio especial da Varig.
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