Regata local abre oficialmente a Volvo Ocean Race neste sábado
O Brasil 1, primeira equipe brasileira a participar da mais tradicional regata de volta ao mundo, começa, neste sábado, às 14 horas locais (11 horas de Brasília), em Sanxenxo, na região espanhola da Galícia, a disputa da Volvo Ocean Race. Depois de 14 medalhas olímpicas e de inúmeros títulos mundial no esporte, a participação no evento marca a chegada em grande estilo do Brasil ao primeiro mundo da vela oceânica. Entre todos os velejadores inscritos na regata, os brasileiros só perdem em número para australianos e neozelandeses, países que têm muita tradição em provas como a Volvo Ocean Race. O Brasil começa a prova com oito velejadores inscritos, contra 12 da Nova Zelândia, 11 da Austrália e oito também da Inglaterra. Além do comandante Torben Grael, o Brasil 1 tem mais cinco velejadores brasileiros. Marcelo Ferreira, André Fonseca, João Signorini, Kiko Pellicano e Horácio Carabelli, que irão disputar a primeira perna, e o diretor do projeto, Alan Adler, que vai velejar a regata local deste sábado. O último representante é Lucas Brun, proeiro do ABN Amro Two. "É um número expressivo para uma primeira participação. É importante sempre lembrar da nacionalidade do nosso projeto. Somos um time brasileiro, com velejadores brasileiros, competindo com um barco brasileiro", diz Torben, bicampeão olímpico da classe Star. As regatas locais (in-port races), como a que abre a Volvo Ocean Race, são uma inovação. Os sete barcos inscritos disputam uma regata com raias definidas, valendo pontos para a classificação final. O formato é o mesmo das competições olímpicas, uma das especialidades dos brasileiros. "Estou confiante para a primeira prova. Ainda não vai dar para saber exatamente como será a competição, quem são os favoritos ou os barcos mais rápidos. Só teremos essa noção depois da primeira perna, quando chegarmos à Cidade do Cabo", avisa Torben. Os participantes vão enfrentar frio neste sábado. A expectativa é de uma temperatura em torno de 15 graus durante a regata. Os organizadores esperam também vento fraco, o que favorece o representante nacional por causa experiência dos brasileiros em provas olímpicas, disputadas em raias. A competição de abertura poderá ser assistida da orla pelos milhares de turistas que são esperados. Confiança Os estrangeiros do Brasil 1 também estão confiantes. O espanhol Roberto Bermudez, único galego de toda a competição, diz que a travessia entre o Brasil e Portugal foi essencial para o time. "Os brasileiros mostraram que são bons velejadores e estão prontos para o desafio", aposta. Torben concorda: "Foi nessa viagem que os estrangeiros perceberam que os brasileiros são bons e podem completar a volta ao mundo. Nós (brasileiros) temos uma base de vela muito boa, que vem das competições em classe olímpicas". Além dos brasileiros e de Bermudez, completam o time os neozelandeses Andy Meiklejohn, Stuart Wilson e Martin Carter (que vai disputar apenas a regata local) e a australiana Adrienne Cahalan, única mulher a participar da competição. O Brasil 1, de 21,5 metros, terá pela frente oito meses de competição, com etapas que duram até 25 dias ininterruptos. Nesse período, a tripulação terá de conviver em um espaço muito pequeno. Além disso, como o peso é um luxo em barcos de competição, os velejadores costumam levar apenas o essencial. Escovas de dente, por exemplo, só entram com o cabo cortado. Em algumas etapas, os desafios serão imensos. Nas últimas edições, tripulações enfrentaram ondas com dez metros, trombaram com icebergs e baleias. A variação climática é um problema. Na mesma etapa, os velejadores enfrentam o frio polar, abaixo de zero e o calor tropical, que deixa todos mais lentos e de mau humor. Para comer, alimentos liofilizados, quase sem gosto. Para beber, só água desalinizada. Alguns chegam a perder dez quilos. O Brasil 1 está na água desde o começo de julho e já mostrou capacidade. Na Semana de Vela de Ilhabela, a principal competição náutica do Brasil, o veleiro quebrou o recorde da regata Alcatrazes por Boreste, chegando quase uma hora na frente do segundo colocado. No dia 20 de agosto, Torben e a tripulação do Brasil 1 velejaram para a Europa. A tripulação fez os primeiros treinos na Europa em Cascais, em Portugal, seguindo depois para Sanxenxo, na Espanha, onde está há 15 dias. O barco passou por todas as medições oficiais e os tripulantes tiveram de fazer os cursos obrigatórios, como o de primeiros socorros. O barco Desenhado pela equipe do neozelandês Bruce Farr, responsável pelos vencedores das últimas seis regatas de volta ao mundo, o Brasil 1 começou a ser construído em outubro de 2004, no estaleiro ML Boats, em Indaiatuba, no interior de São Paulo. O coordenador técnico, Horacio Carabelli, e o construtor do barco, Marco Landi, estão entre os mais respeitados do país. A primeira fase da construção foi a montagem dos moldes do casco e do convés. As duas peças foram construídas separadamente. Um mês e meio depois, começou a laminação, usando fibra de carbono, com recheio de colméia nomex. A combinação garante resistência e leveza, duas características essenciais aos barcos de competição. Em março de 2005, a laminação foi concluída e a equipe do estaleiro passou a montar as estruturas internas. Casco e convés foram unidos em abril. Entre maio e junho, o barco foi pintado e todos os conjuntos elétricos e eletrônicos foram instalados. No dia 23 de junho, o Brasil 1 foi batizado. "É, sem dúvida, o veleiro mais moderno já feito no país. A técnica de construção em fibra de carbono e todos os materiais usados são novos no Brasil. Além disso, grande parte de tudo o que está sendo usado nesse processo é de alta tecnologia", garante Carabelli. O barco está entre os mais rápidos do mundo. Na viagem até Portugal, o Brasil 1 já chegou a 30 nós de velocidade, mais de 55 km/h. Em abril, o veleiro da equipe espanhola, que tem um barco idêntico ao brasileiro, se tornou o monocasco (barco com só um casco) mais rápido do mundo ao quebrar o recorde de velocidade, velejando 981,92 km em 24 horas, com média de 22,09 nós (40,91 km/h). O projeto Depois de 14 medalhas olímpicas e vários títulos mundiais, o Brasil participa, pela primeira vez, do maior desafio da vela oceânica. O Brasil 1 é capitaneado por Torben Grael. Ao seu lado estará seu parceiro no bicampeonato olímpico da classe Star, Marcelo Ferreira, a navegadora australiana Adrienne Cahalan, primeira mulher a quebrar o recorde de velocidade na volta ao mundo, e um grupo de talentosos velejadores brasileiros e estrangeiros. O projeto foi lançado em setembro de 2004, após o sucesso do esporte nas Olimpíadas de Atenas, que motivou patrocinadores como VIVO, Motorola, QUALCOMM, NIVEA Sun, ThyssenKrupp, Ágora Sênior Corretora de Valores, além do Governo Brasileiro através da Apex (Agência de Promoção das Exportações do Brasil), Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior e Ministério do Turismo. É um dos maiores projetos esportivos já realizados no país e uma prova do potencial brasileiro em diversas áreas. O veleiro conta com o que há de mais moderno na indústria naval no mundo e foi todo construído no Brasil, com mão-de-obra nacional e internacional. A competição A Volvo Ocean Race nasceu em 1973, quando a Marinha Real Britânica e a Whitbread, uma tradicional marca de cerveja inglesa, resolveram apostar em uma regata de volta ao mundo, testando os competidores nas áreas mais inóspitas e desafiadoras do planeta. Desde então, verdadeiras lendas da vela como o holandês Cornelius van Rietschoten, os neozelandeses Peter Blake e Grant Dalton e os americanos Paul Cayard e Dennis Conner se arriscaram na regata. Nesta edição, a Volvo Ocean Race terá oito meses e os competidores navegarão por 31.250 milhas náuticas, mais de 57 mil quilômetros. A regata começa neste sábado. A primeira perna terá largada em Vigo, também Espanha. A competição passa ainda por Cidade do Cabo (África do Sul), Melbourne (Austrália), Wellington (Nova Zelândia), Rio de Janeiro (Brasil), Baltimore, Annapolis e Nova York (EUA), Portsmouth (Inglaterra), Roterdã (Holanda) e Gotemburgo (Suécia). O Brasil 1 terá seis concorrentes de cinco países: os barcos holandeses ABN Amro 1 (comandado por Mike Sanderson/NZL) e ABN Amro 2 (Sebastien Josse/FRA); Ericsson Racing Team (Neil McDonald/ING), da Suécia; Piratas do Caribe (Paul Cayard/EUA), dos Estados Unidos; Movistar (Bouwe Bekking/HOL), da Espanha; e Premier Challenge (Grant Wharington/AUS), da Austrália. Concorrentes Team ABN Amro - Holanda - Dois barcos Os holandeses formam o maior time em Sanxenxo. Além de entrar na regata com dois barcos, a equipe de terra é enorme, com cerca de 200 pessoas. Com isso, as cores da equipe, preto, verde e amarelo, estão sempre presentes pelas ruas. O barco principal é capitaneado por Mike Sanderson, da Nova Zelândia, com uma das tripulações mais experientes da competição. Com 34 anos, ele já venceu a prova uma vez, com o Endeavour, em 1993/94, além de ter quebrado em 2005 o recorde transatlântico, que já durava 100 anos. Outro destaque da tripulação é o navegador Stan Honey, dos Estados Unidos. O segundo barco é formado por uma série de jovens velejadores, recrutados por todo o mundo. No Brasil, além de Lucas Brun, André Mirsky também foi selecionado, mas acabou pedindo dispensa por motivos particulares. O barco conta também com dois norte-americanos, dois holandeses e dois neozelandeses. O comandante do barco é o francês Sebastien Josse. Piratas do Caribe 2 - Estados Unidos Comandado por Paul Cayard, uma das lendas da vela, a equipe norte-americana é apontada como uma das favoritas da regata. O barco foi o último a ficar pronto, mas a aposta é que a qualidade de Cayard e de sua tripulação compense a falta de tempo para treinar. O skipper já foi campeão da Whitbread/Volvo Ocean Race em 1997/98, com o EF Language. Na época, ele também não teve o período de treinamento adequado. Além disso, ele também agrega ao projeto técnicas de motivação, planejamento e atenção aos detalhes, fruto de suas campanhas na America’s Cup. Ericsson Racing Team - Suécia Os suecos Richard Brisius e Johan Salen são veteranos da competição e chegaram entre os três primeiros colocados nas últimas três Whitbread/Volvo Ocean Race. Na última, organizaram a equipe que terminou em segundo lugar, Assa Abloy, que tinha os tripulantes do Brasil 1 Roberto Bermudez e Stuart Wilson. O resultado de toda essa experiência é um dos sindicatos mais organizados da prova. O comandante do barco é o inglês Neil McDonald, outro vice-campeão da última edição. Além dele, o time conta com outros três remanescentes do time vice-campeão: Jason Carrington, Guillermo Altadill e Richard Mason. Movistar - Espanha A única equipe espanhola na competição é comandada pelo mais experiente velejador da prova: aos 42 anos, o holandês Bouwe Bekking já deu a volta ao mundo quatro vezes. Ao seu lado, ele terá o australiano Andrew Cape, campeão da última America’s Cup com o Alinghi. Segundo barco a ir para a água, o Movistar já quebrou o recorde de velocidade de um monocasco, velejando 530 milhas náuticas em um dia, quando velejava da Austrália, onde foi construído, para o Rio de Janeiro. Premier Challenge - Austrália O barco do comandante Grant Wharrington é o único que ainda não está em Sanxenxo. Sem patrocínio, a equipe pode nem mesmo largar para a Volvo Ocean Race. Entre os velejadores, comenta-se que o barco chegou à Europa há algumas semanas e está a caminho da Galícia. A organização afirma que o barco deve largar para a Cidade do Cabo, no dia 12, em Vigo, também na Espanha. A tripulação Torben Grael (BRA) Comandante - 45 anos (22/07/60) O comandante do primeiro barco brasileiro na Volvo Ocean Race é também o maior vencedor olímpico do Brasil. Em Atenas-2004, Torben Grael conquistou seu segundo ouro na classe Star, quinta medalha no total. Ele é o maior velejador olímpico do planeta em número de medalhas, com cinco. Além do sucesso olímpico, Torben é o único brasileiro que já disputou a America’s Cup, uma das competições mais antigas do mundo. Ele é tático do sindicato italiano Prada (hoje Luna Rossa) desde 2000, quando foi um dos principais responsáveis pelo título da equipe na Louis Vuitton Cup, competição classificatória. Adrienne Cahalan (AUS) Navegadora - 41 anos (26/09/64) Única mulher na competição, a australiana será a navegadora da equipe. Adrienne já foi indicada quatro vezes para o prêmio de melhor velejadora do ano no mundo e foi a primeira mulher a bater o recorde de navegação de volta ao mundo. Acabou de ser eleita a velejadora da temporada na Austrália. Marcelo Ferreira (BRA) Regulador de velas - 40 anos (26/09/65) Marcelo Ferreira foi a escolha mais fácil de Torben Grael. Parceiros há 15 anos, os dois conquistaram três medalhas olímpicas. Além de velejador, será o homem da mídia no Brasil 1. André Fonseca (BRA) Timoneiro/Regulador de velas - 27 anos (08/08/78) André é o tripulante que mais conhece o Brasil 1. No começo de 2005, se mudou de Porto Alegre para o interior de São Paulo e acompanhou toda a construção do barco em Indaiatuba. Stuart Wilson (NZL) Regulador de vela - 38 anos (10/12/66) A função de Stuart no barco será uma das mais importantes: ele será o responsável pelas velas do Brasil 1. Como o número de velas é limitado para toda a corrida, ele adaptará as usadas nas primeiras regatas para as seguintes. Roberto Bermudez (ESP) Timoneiro - 35 anos (01/03/70) Roberto é um velho conhecido de Torben Grael. Além de competir na classe Star, já velejou ao lado do brasileiro. O espanhol foi vice-campeão da última edição da Volvo, no Assa Abloy. João Signorini (BRA) Timoneiro/Regulador de velas - 28 anos (22/07/77) Signorini será um dos enfermeiros do barco. Filho de médico, treinou primeiros socorros com os Bombeiros do RJ e ainda passou por um estágio com amigos médicos para exercer a função. Andy Meiklejohn (NZL) Proeiro - 30 anos (13/09/75) Andy é o especialista em mastros do Brasil 1. Foi ele que montou a peça no Brasil 1. O neozelandês, campeão em 2005 da regata de volta ao mundo sem paradas Orix Quest, é o substituto de Justin Clougher. Kiko Pellicano (BRA) Proeiro/Regulador de velas - 31 anos (28/02/74) Medalhista olímpico (bronze em Atlanta-1996), Kiko é o brasileiro com mais experiência em regatas longas. Tem quatro travessias no Atlântico e mais de 40 mil milhas náuticas em viagens oceânicas. Martin Carter (NZL) - Regulador de velas em Sanxenxo - 41 anos (21/7/64) Engenheiro e ex-membro da marinha mercante, Carter já participou de uma edição da Volvo Ocean Race. Foi engenheiro-chefe do Team Tyco, quarto colocado em 2001/2002, mas esteve na tripulação apenas durante os treinos. Coordenou também a área elétrica, eletrônica e hidráulica do GBR Challenge, a equipe da Inglaterra que disputou uma vaga na America’s Cup de 2002. Ele exerceu o mesmo cargo na equipe de Ellen McArthur, vice-campeã da Vendee Globe, regata de volta ao mundo em solitário, em 2001. Alan Adler (BRA) - Regulador de velas em Sanxenxo - 41 anos (23/5/64) Campeão mundial da classe Star em 1989, Alan Adler ajudou o Brasil a se tornar uma das potências mundiais da vela. Desde o título do campeonato brasileiro júnior da classe 470 em 1981, Adler acrescentou ao currículo conquistas nas classes Snipe, Laser, Soling e Flying Dutchman. Em 2003 ganhou a medalha de prata na classe J-24 dos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, na República Dominicana. Horácio Carabelli (BRA) - Regulador de velas na primeira etapa - 37 anos (3/10/68) Começou a velejar aos 8 anos, na classe Optimist. Na Snipe, ele conquistou dois Mundiais júnior (1984 e 1986) e um 3° lugar sênior (1987). Um dos projetistas náuticos mais respeitados do país, Carabelli também defendeu o Uruguai, país onde nasceu, na classe Soling nas Olimpíadas de Seul-1988. Knut Frostad (NOR) Timoneiro - 38 anos (04/06/67) - Etapas dos mares do Sul Membro do comitê técnico, Knut será também o timoneiro do Brasil 1 nas etapas dos mares do sul. Em 97-98, era o capitão do Kvaerner, barco em que Torben estreou na regata de volta ao mundo. Eduardo Penido (BRA) Reserva - 45 anos (23/01/60) Um dos primeiros a se candidatar por uma vaga no Brasil 1, Penido treinará com a equipe no País e pode ser aproveitado em uma das etapas. É dono de uma medalha de ouro olímpica, na classe 470.
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