Existe uma frase de Winnicott que julgo fundamental em questão de educação: "Quem ama dá limites". Parece um lugar comum falar sobre limites, mas na minha experiência de quase 30 anos como Psicopedagoga Clínica, tenho acompanhado muitos casos em que a dificuldade de aprendizagem da criança se prende em grande parte à restrita disponibilidade qualitativa dos pais em lhe dedicar tempo e atenção, suficientes para pontuar a sua educação com limites. Tenho percebido que poucos adultos são conscientes de que a difícil tarefa que é educar consiste substancialmente em ensinar os limites ao seu filho. E o que é o limite, senão aquela fronteira sutil de respeito e responsabilidade por seus atos? Corresponde àquele ponto de onde não se deve passar, pois se está entrando no que pertence ao outro ou aquele lugar até onde a criança vive em segurança física e emocional. E por que estou escrevendo sobre isso? É para compartilhar uma experiência profissional, que pode alertar a muitas famílias: não é possível a criança desenvolver responsabilidade, se não lhe forem oferecidas as oportunidades de viver e aprender com os limites, com o conhecimento e a experiência sobre as conseqüências de seus atos, que lhe vão permitir a internalização da ética pessoal e da moral coletiva, os dois valores que distinguem o ser humano de toda a natureza animal. E mais ainda: muitos pais não sabem que para as crianças e jovens, a falta da delimitação é sentida como ausência de afeto, de amor, de atenção. O bebê já nasce inserido em um meio social, em um lugar que lhe é atribuído pelos pais. Começa a aprender não só a sentar e falar, mas a compreender como funcionam as coisas em torno de si e aprende com o que dizem e fazem seus familiares. Aí a importância de uma educação bem estruturada, com exemplos a serem seguidos e confiança a ser conquistada. Falar sobre limites com os filhos por si só não basta: é necessário viver e fazê-los viver com regras, obrigações, conseqüências. Com direitos sim, mas também com deveres. E tudo isso com amor, carinho e respeito. A antiga e verdadeira idéia de que se aprende muito pelo exemplo, ainda deve ser observada pelos pais. Cuidar para que as atitudes sejam coerentes com as ordens dadas à criança, é importantíssimo para a manutenção de uma posição de respeito, de autoridade. Uma coisa simples chamada de "bons modos" pelos nossos avós, não pode cair em desuso: cumprimentar educadamente as pessoas, agradecer, pedir licença, desculpas e por favor. São princípios básicos do bom convívio social e ajudam a posicionar as crianças frente a seus direitos e deveres diante dos mais velhos e da autoridade em geral. Crianças criadas para não obedecerem e que vivem em uma estrutura na qual não se permite que sintam falta de nada, onde jamais podem ser contrariadas em seus desejos e vontades, acabam irremediavelmente enfraquecidas por não conseguirem suportar as frustrações que a vida escolar de alguma forma sempre trás: o coleguinha que possui mais brinquedos, a amiguinha mais bonita, as dificuldades naturais de aprendizagem, a nota baixa, as obrigações com horários, lições de casa, provas, a professora que exige o cumprimento dos deveres, que não faz concessões especiais a ele... Educar não é fácil. Aliás, nunca li ou ouvi o contrário. Mas se a tarefa começar desde o berço, com certeza a criança poderá com mais serenidade, ser preparada física, mental e socialmente para uma vida responsável e útil. Com limites. O tema estará em pauta no II Fórum Nacional de Psicopedagogia que acontece entre os dias 2 e 4 de julho de 2004, na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) em São Paulo. As inscrições e a programação do evento podem ser conseguidas pelo telefone (0**11) 3361-3056 ou www.abpp.com.br. Nota do Editor: Maria Irene Maluf é vice-presidente da ABPp - Associação Brasileira de Psicopedagogia; Pedagoga e Psicopedagoga Clínica e Sócia Honorária da Associação Portuguesa de Psicopedagogos.
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