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Comportamento
26/05/2004 - 06h54
Ensinando a criança a ver TV
Ana Cristina Dunker
 

O avanço tecnológico permitiu um progresso sem precedentes aos veículos de comunicação. Transmissões de locais de difícil acesso, imagens em tempo real via satélite e outros tantos recursos permitem que milhares de informações e imagens, das mais diversas culturas e fatos, invadam nossas casas e os quartos de nossas crianças via TV ou Internet. O que fazer? Liberar tudo? O que proibir? São perguntas comuns de pais angustiados.

Os avanços tecnológicos, somados à banalização da violência e ao forte apelo sexual que se destaca na mídia, trouxeram desafios e são alvos de freqüentes estudos. Qual o impacto que todo esse conteúdo televisivo pode ter sobre nossas crianças? O tema, debatido recentemente no Rio de Janeiro, durante a 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes, têm ocupado a mente de educadores.

O fato de a televisão ter se tornado uma "ocupação" constante para a criança é visto com cautela pelos pais. Ao mesmo tempo em que tal ação representa o indício de que o filho está se integrando aos novos tempos, significa também que ele pode estar se integrando ao que há de pior neste espaço de informação e imagens indiscriminadas. Quanto maior a oferta de informação, maior a dificuldade em julgá-la, isto é, separar seu valor de exemplo ou de contra-exemplo, distinguir seu caráter de realidade ou fantasia, qualificar positiva ou negativamente uma imagem.

Uma solução comum para esse excesso de realidade indiscriminada a que os pais temem expor seus filhos pode ser exemplificada no filme "A Vida é Bela", de Roberto Beninni. Nele, um pai preso com seu filho em um campo de concentração finge que aquilo tudo não passa de uma espécie de jogo, uma brincadeira que no fundo não é tão real quanto parece. Podemos imaginar uma atitude complementar, que, de fato, observamos em muitos pais, que é a de tentar restringir o acesso a esta realidade "dura demais", impondo limites. É melhor não saber daquilo com que não se pode lidar ou entender. Estas duas atitudes de proteção, por desqualificação ou por restrição, estão cada vez mais difíceis de sustentar. Em uma época onde é importante saber de tudo e o quanto antes, os pais se vêem pressionados a introduzir cada vez mais cedo os filhos neste mundo da informação. Exemplo disto está no alto valor que uma cultura "informática" adquire para a ideologia da educação em nossa época. Mais além, deve-se registrar a sobreposição crescente entre o saber que se ensina formalmente e o saber ligado ao entretenimento.

Na classificação dos saberes restritos, duas figuras encabeçam a lista do que se deve evitar expor a criança: a violência e a erotização dos costumes. É claro que programas que exploram diretamente tais aspectos de nossa cultura devem ter seu acesso vetado à criança. Há um consenso de que a exposição a tais programas é um fator de risco para seu desenvolvimento social e cognitivo. Mas como fazê-lo? O veto ao acesso a certos programas ou jogos em função de seu risco potencial é muito difícil de cumprir.

Sabe-se que entre a oferta de um programa educativo bem produzido, planejado para certa faixa etária, e um lixo industrial potencialmente danoso, a escolha da criança pode se dirigir preferencialmente para o primeiro caso, principalmente se os pais e a escola trabalharem ativamente neste sentido. Diante da intensa e extensa exposição da mídia a que nossas crianças são submetidas, o trabalho para conter o acesso ao imaginário da violência e da sexualidade é árduo. Mesmo assim, pais e educadores devem manter a atitude criteriosa quanto à seleção e incentivo do tipo preferencial de programação.

Nas escolas de educação infantil, uma estratégia que pode ser utilizada é trazer a própria criança para o centro da avaliação do que é ruim ou bom assistir, estimulando diretamente o julgamento do que é apresentado e enfatizando a tarefa de qualificação da informação pelo próprio jovem. Isso implica em deslocar o problema do que pode ou não ser assistido para a interpretação do que é dado. Tal ação auxilia no que podemos chamar de formação estética de nossas crianças, desenvolvendo seu raciocínio crítico.

Uma tática importante neste processo é a de não separar totalmente a alta cultura da cultura popular e da cultura industrial televisiva. Nesta comparação, poderá ser percebido junto com a criança que parte do que se veicula na televisão não é apenas ruim do ponto de vista do conteúdo, mas muito pobre e desinteressante também do ponto de vista formal. O limite torna-se, então, uma ação não apenas baseada na proibição baseada na autoridade do adulto, mas um juízo de qualidade construído e partilhado pela criança.

Cabe aqui uma constatação: se o próprio adulto não consegue ir além de uma recusa pelo conteúdo que ele suspeita ser mais ou menos nocivo, terá poucos recursos para contribuir na interpretação que forma o julgamento da criança. Nesta medida, proibir um programa de baixa qualidade é muito menos eficaz do que assisti-lo e comentá-lo criticamente com a criança, mostrando por que aquele é um programa ruim. Fato é que poucos pais sabem efetivamente o que seus filhos assistem e a situação tende a piorar com o passar do tempo. A televisão no quarto dos filhos ou o acesso não compartilhado à mesma torna-se assim um problema muito maior do que se imagina.

A vida banalizada pela violência é diariamente retratada pela televisão. Para a criança que está em fase de desenvolvimento, período onde o mundo da fantasia e o mundo real confundem-se, os parâmetros dados pela família e pela escola de educação infantil são fundamentais, pois são eles que nortearão o saber do jovem e a construção de um aparato cognitivo que seja capaz de fazê-lo diferenciar o real do imaginário, o certo do errado, o bom do mau. É na socialização das idéias com o professor, com os colegas de sala e com os pais que a criança constrói seu conhecimento.


Nota do Editor: Ana Cristina Dunker é psicóloga, diretora do Espaço Vivavida, escola de educação infantil de São Paulo, SP.

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