Interação com áreas verdes pode ser feita em parques, praças e até mesmo em espaços inusitados em grandes metrópoles
A infância de várias gerações foi marcada por brincadeiras no quintal, ruas, parques e praças. Aventuras que permitiam o contato com a natureza e a postura contemplativa e observativa. No entanto, nos últimos anos, estudiosos têm detectado comportamento diferente na infância das novas gerações. Richard Louv, jornalista e fundador do Movimento Criança e Natureza, alerta sobre o transtorno do déficit de natureza e chama atenção para os impactos negativos que essa mudança de cenário e a falta de contato com o meio natural podem acarretar na vida das crianças. Para o doutor em Educação, pós-doutor no departamento de Psicologia Social da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, Marcos Sorrentino, o contato com a natureza na infância ajuda a construir adultos emocionalmente mais saudáveis. “Desenvolver na criança essa capacidade de observar e ser atenciosa à vida é prepará-la para uma adolescência e uma fase adulta mais tranquila, menos estressada e menos neurótica”, analisa. Mas, segundo o especialista, não basta apenas estar em contato com o meio ambiente, é preciso mudar a perspectiva. “Em geral, o contato com a natureza cria condições para que as crianças tenham momentos mais lentos de contemplação e observação, mas de nada adianta estar no meio natural se passamos pelas árvores, plantas e animais rapidamente. As crianças, assim como os jovens e até os adultos, precisam reaprender a usufruir desse momento com a natureza, deixando de lado esse modo de vida acelerado e hegemônico a que somos expostos na nossa sociedade”, ressalta Sorrentino. Além disso, o contato com o meio ambiente desde a infância ajuda o fortalecimento do vínculo com o meio natural, garantindo uma conscientização mais profunda em relação à importância da conservação e do uso sustentável dos recursos naturais. Natureza perto de nós A interação com o meio ambiente pode ser feita em parques estaduais ou nacionais, praças, parques urbanos e até mesmo em áreas inusitadas em grandes metrópoles. “Quem mora em apartamento pode, por exemplo, fazer uma composteira, criar e ensinar a criança a cuidar das minhocas. Só de colocar a mão na terra e visualizar a transformação da matéria orgânica em húmus dá uma nova perspectiva à criança, um contraponto a um modo de vida alienante que distancia dos cuidados com a vida”, destaca o especialista. Para Sorrentino, é preciso quebrar algumas resistências estimulando a curiosidade pela descoberta e valorizando a relação com o meio ambiente de forma natural, tanto na família como na escola. “Temos pais e mães extremamente distanciados dessa relação e, por isso, muitas vezes eles preferem ir ao shopping a passear em um parque. Precisamos criar pontes para que essa pessoa volte a se encantar com a natureza, com o contato da terra. Essa interação começa em casa, com o cultivo de vasos de plantas, ou na escola, com as hortas. Essas atividades ajudam a criar uma conexão com o meio ambiente”, finaliza.
|