Seja aos 18 ou aos 40 anos, quem nunca se questionou sobre sua vida: será que estou feliz no trabalho? Será que estou com a pessoa certa? Será que quero ter filhos? Ao longo de milhares, talvez milhões de anos, a espécie humana adquiriu a capacidade de refletir sobre si e o ambiente. O homem se deu conta de sua existência, percebeu que nasce, se desenvolve, envelhece e morre. Ao longo de sua existência, o homem se questiona e busca respostas para o fenômeno da vida, especialmente de sua vida. De modo geral, os questionamentos encontram respostas que o tranquilizam e o homem segue sua trajetória relativamente feliz consigo mesmo. Eventualmente, porém, algumas questões não encontram respostas ou a vida lhe apresenta uma situação que o leva a uma reflexão mais profunda, e ele se sente diante de uma encruzilhada, devendo decidir qual direção tomar. Muitas vezes a escolha é dolorosa. Um bom exemplo se encontra no filme “A escolha de Sofia”, de 1982. Sofia (Meryl Streep), presa num campo de concentração nazista, é obrigada a escolher qual de seus dois filhos será morto. Se recusasse escolher, ambos seriam executados. Uma crise existencial não é considerada propriamente uma doença ou um diagnóstico médico. Envolve, em geral, uma situação-limite para a pessoa, um questionamento sobre algum aspecto profundo e essencial de sua existência. Difere claramente de uma crise situacional, como um divórcio, por exemplo, ou uma crise inerente às diversas etapas da vida (adolescência ou meia-idade). Crises situacionais podem convergir e se aprofundar a ponto de se tornarem uma crise existencial. Quando ela se aprofunda, a pessoa pode vir a desenvolver uma depressão, que requer cuidado médico especializado. As crises e adversidades da vida ocorrem de modo quase sempre imprevisível; a forma de lidar com a crise dependerá, em boa parte, da capacidade de resiliência da pessoa, em última análise de sua personalidade. Se a crise é muito intensa ou a pessoa tem pouca resiliência, ela precisará de ajuda profissional para lidar com a adversidade e desenvolver seu potencial de resiliência, de modo a ficar mais preparada para uma possível nova crise que a vida possa trazer. Psicoterapias, especialmente a Psicanálise, proporcionam a possibilidade de desenvolvimento pessoal, a partir da investigação do modo de ser da pessoa. A medida que a pessoa amplia e aprofunda o conhecimento de si mesma, passa a dispor de novos instrumentos para lidar melhor com as crises e dúvidas inevitáveis durante a vida. Nota do Editor: Prof. Dr. Mario Louzã, médico psiquiatra, doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, Alemanha. Membro Filiado do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (CRMSP 34330).
|