A pesquisa, que também analisou o desgaste dos equipamentos, revelou que não é quando novos que os tênis obtém seu melhor desempenho na absorção de impactos e na área de contato com o pé do atleta
Amaciar calçados novos antes de utilizá-los talvez não seja uma prática que apenas aumenta o conforto nos pés de quem os usa, principalmente para praticantes de corrida. Fazer isso pode também contribuir ligeiramente para o desempenho inicial dos tênis, nos aspectos da absorção de impactos e da distribuição do peso. "Não é quando o calçado está novo que ele apresenta os melhores resultados, mas após um certo período de uso", explica o educador físico Roberto Bianco, que em julho defenderá na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP o estudo de mestrado "Caracterização das respostas dinâmicas da corrida com calçados esportivos em diferentes estados de uso". Em sua pesquisa, Bianco analisou três modelos de tênis de corrida: dois específicos para competição e um para treinamento, finalidades definidas pelas empresas fabricantes. Após 100 quilômetros de uso, houve uma pequena redução do impacto e um significativo aumento de 5,6 centímetros quadrados (cm²) na área de contato entre o pé do usuário e o calçado, pela média das medidas. "Com isso, o peso do atleta fica distribuído em uma superfície maior, melhorando a interação entre o sujeito e o equipamento". Com relação à absorção do impacto, Bianco faz a ressalva de que não é só o calçado que influencia neste quesito, mas também o próprio atleta. "Provavelmente o corpo vai se adaptando e ajustando no sentido de manter um padrão de movimento". Isso significa que o desgaste do tênis, e uma eventual perda na capacidade de minimizar os impactos, acabaria sendo compensado pelo próprio corpo. Além disso, foi verificado que a diferença entre os modelos de competição e o de treino tendem a diminuir, contrariando as expectativas. Os fabricantes alegam que os calçados de corrida precisam ser mais leves e utilizam menos material. Com isso o desgaste seria mais rápido, e propriedades como a absorção de impacto estariam comprometidas em menos tempo que nos modelos para treinamento. Durabilidade A recomendação genericamente repetida, principalmente por vendedores, é que os tênis de competição devem ser utilizados poucas vezes. No caso de maratonas, a crença popular é que o equipamento serviria apenas para uma ou duas corridas, devendo ser descartado posteriormente. "Talvez os fabricantes façam um produto com maior durabilidade do que eles supõem", acredita o pesquisador. Entretanto, os resultados obtidos vão num sentido oposto. Mesmo após 300 quilômetros, ou quase sete vezes o percurso de uma maratona, os calçados continuavam apropriados à prática do atletismo. A conclusão é categórica: "Ele permanece adequado à sua finalidade por mais tempo do que se pensava. O desgaste nestes 300 quilômetros não aumentou o impacto". Bianco acrescenta ainda que provavelmente as empresas trabalhem com uma certa margem de segurança no intuito de garantir um produto de qualidade. Apesar disso, obviamente que o estudo faz referência apenas aos modelos analisados e toda generalização deve ser cercada de cuidados. "A maneira específica que cada calçado é fabricado pode influir nos resultados." As marcas utilizadas na pesquisa, que foi orientada pelo professor Júlio Cerca Serrão, não podem ser divulgadas por impedimento contratual.
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