Todo sucesso passa por um caminho. Ninguém acorda bem sucedido. Você inicia sua carreira em um ponto e sobe os patamares hierárquicos. E nesse processo de subir os degraus, você imagina o peso, o esforço e o sabor dos degraus seguintes, ainda antes de tê-los subido. Neste caso, ser bem sucedido na vida será tão certo como saber que Usain Bolt estará no pódio. Nas grandes corporações do mundo uma dúvida aguça os espíritos dos líderes mais ambiciosos: será que a ciência finalmente alcançou o status em que podemos lançar mão de ferramentas tecnológicas para fazer com que o cérebro humano seja capaz de prever o sucesso pessoal? Exames sofisticados já são capazes de mostrar como o cérebro bem sucedido funciona. Anos atrás achávamos que o órgão era um bloco fixo de cerca de um trilhão de células. Estávamos destinados a atravessar a vida perdendo parte delas a partir da meia idade, mas sem jamais poder aumentá-las. Isso hoje é dogma derrotado. Podemos formar novos neurônios em dias, quando não em horas. Teríamos como dar uma flechada certeira na vida e tornar o cérebro uma máquina de obter sucesso? A resposta mais honesta hoje é um talvez, mas será realidade em poucos anos. Considere o seguinte experimento realizado por pesquisadores da Universidade de Harvard. Eles desejavam saber se o aumento da destreza formaria novos neurônios no cérebro. Um grupo de voluntários foi colocado a trabalhar diariamente com os cinco dedos de uma das mãos em duas horas de exercício no teclado do piano. Como era de esperar, depois de uma semana o cérebro acostou novos neurônios às células já existentes de maneira semelhante a um processo judicial que no foro recebe mais folhas a cada semana. De fato, não há surpresa aqui. Já se havia observado esse efeito em saxofonistas experientes. Após algum tempo, extensas áreas cerebrais, incluindo aquelas que fazem os dedos apertar e soltar complicadas claves no instrumento, as zonas auditivas que processam timbres, acordes e ritmos, além da conexão dessas células com outras capazes de executar rajadas de improviso em solos originais em plena jam session com a banda, eram todas vertiginosamente aumentadas. O cérebro triplicava seu conectoma, a capacidade para utilizar suas conexões em nível de excelência. A surpresa contudo ficou por conta de uma ideia genial. E, se em vez de eles se exercitarem no teclado, eles simplesmente imaginassem, em um exercício introspectivo da mente, que estivessem, com as mão imóveis, fazendo o exercício no teclado do piano? Música platônica, em que o sujeito meramente imaginava os movimentos, mas não os executava. Quando o jamaicano Usain Bolt parece estar flutuando sobre a pista nos 100 metros rasos, isso não acontece por passe de mágica. Ele realmente imaginou isso acontecer detalhadamente em sua mente, usando seus neurônios visuais para criar um telão interno onde essa leveza era projetada centenas de vezes. Na hora de voar pela pista, tudo acontece como imaginado. Isso tem um alcance notável para a ciência do sucesso. Todo sucesso passa por um caminho. Ninguém acorda bem sucedido. Você inicia sua carreira em um ponto. A graduação, digamos; depois dela é necessário transformar o conhecimento em energia para subir os patamares hierárquicos na empresa ou em seu próprio negócio. A energia dispendida no dia a dia é o combustível da neuroplasticidade. É ela que conduzirá ao sucesso. Digamos, ainda, que, no processo de subir os degraus, você seja capaz de imaginar o peso, o esforço e o sabor dos degraus seguintes, ainda antes de tê-los subido. Neste caso, ser bem sucedido na vida será tão certo como saber que Usain Bolt estará no pódio. A receita do sucesso vem sendo desvendada por especialistas e usuários de uma técnica conhecida como mindfulness. Em vez de relaxar, mindfulness significa produzir foco. Estudos já mostraram que essa técnica de meditação concentrada em vinte minutos de mergulho na respiração e no ritmo do coração produz neurônios novos. Falta a última etapa: conectá-los aos degraus do seu sucesso. Mas antes de chegar lá, você precisa subir os primeiros degraus. A diferença é que com o mindfulness, você consegue dirigir o foco aos degraus seguintes. Dá até para visualizar o pódio lá na frente. Nota do Editor: Dr. Martin Portner (www.martinportner.com.br) é médico neurologista , mestre em Neurociência pela Universidade de Oxford e especialista em Mindfulness. Há mais de 30 anos divide suas habilidades entre atendimentos clínicos e palestras, treinamentos e workshops sobre sabedoria, criatividade e mindfulness.
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