É notória a evolução da segurança nos últimos anos. Entretanto, ainda há muito a fazer, considerando que nenhum acidente é aceitável. Todo acidente pode e deve ser evitado. Inicialmente, os acidentes do trabalho eram tratados como verdadeiras obras do acaso, uma vez que aconteciam porque iriam acontecer de qualquer maneira, sem que ninguém pudesse fazer absolutamente nada a respeito. Mais tarde, acreditou-se que haveria uma redução do número de ocorrências por meio de intensa vigilância, uma vez que só haveria cuidado e as devidas precauções se alguém estivesse fiscalizando. Essa ação realmente reduziu o número de acidentes e representou uma enorme evolução para a época, mas não os eliminou. Posteriormente, houve uma evolução para o conceito de que a segurança dependia de cada um. Assim, os colaboradores começaram a cuidar de si em vez de serem fiscalizados. Outro grande marco na evolução da segurança: Eu sou o responsável pela minha segurança! Mais uma vez, o número foi reduzido, mas os acidentes ainda não foram eliminados. Atualmente o nível de referência para a segurança é o chamado cuidado ativo, ou seja, eu cuido de mim, eu cuido de você e você cuida de mim. Esse conceito, somado aos avanços da tecnologia e à segurança tratada como fator estratégico pela alta direção, proporciona um cenário muito positivo para a eliminação de qualquer acidente. O maior desafio das organizações e, em especial, de nós está no estabelecimento de valores e crenças que contribuem para atitudes e comportamentos que desenvolvem a percepção do risco. Atitudes e comportamentos seguros, sustentados por valores pessoais, são percebidos no dia-a-dia das pessoas, em todos os lugares, como trabalho, casa e escola, entre outros. Não é possível ter comportamento seguro na empresa e não apresentá-lo em casa. Se isso for percebido, o nível de maturidade ainda é baixo. Um exemplo de como atividades simples do dia-a-dia podem comprometer a nossa percepção do risco e, consequentemente, aumentar o número de acidentes: Imagine que um pedestre precisa atravessar uma avenida bem movimentada, mas, por estar com pressa, resolve atravessar fora da faixa. No primeiro dia, ele se preocupa com essa atitude inadequada, fica incomodado, olha para os dois lados e, com algum receio, consegue atravessar a rua. Quando faz isso, que mensagem ele passa ao cérebro? “É perigo atravessar fora da faixa, mas eu atravessei e nada me aconteceu”. No dia seguinte, ele precisa atravessar novamente, então olha para os dois lados, a preocupação e o incomodo já são menores do que no dia anterior, e ele consegue atravessar. Mais uma vez, enviou ao cérebro a mesma mensagem. No terceiro dia, ele já não tem mais incomodo ou preocupação. No outro dia, menos ainda, até perder toda a percepção do risco. Nesse momento, o cérebro entende que atravessar fora da faixa não é mais uma atitude perigosa. Infelizmente, é exatamente neste momento em que acontecem os acidentes. Quando você se dá ao direito de não usar a faixa de pedestres ao atravessar ou não segurar o corrimão ao descer as escadas, você contribui para que o cérebro perca a percepção ao risco. É justamente sem esta percepção que surgem as ocorrências de falha de segurança. Da mesma forma, ir sempre até a faixa para atravessar a rua gera um hábito de comportamento seguro. Todo acidente pode e deve ser evitado. Hoje a cultura de prevenção ao acidente está integralizada aos negócios. Não se pode imaginar que uma organização seja sustentável se não possuir um elevado nível de segurança. Hoje é possível, inclusive, fazer avaliações de desempenho operacional e financeiras relacionadas ao nível de segurança que a organização dispõe. Após todo esse conhecimento adquirido, muitas vezes com o aprendizado decorrente de acidentes reais, é necessário intensificar as ações que permitam a compreensão de todas as interfaces entre o comportamento humano e os processos produtivos. É preciso explicitar e compartilhar os valores das organizações, compatibilizando-os com os valores pessoais de cada funcionário, afinal são eles que descrevem as motivações individuais e coletivas. Este assunto é de cuidado permanente nas indústrias do Polo do Grande ABC, que inclusive realizam treinamentos para o desenvolvimento do comportamento seguro dentro das organizações. Tão importante quanto investir em formação técnica é essencial e desafiador habilitar profissionais para trabalharem com o fator humano, de modo que possam garantir maior efetividade na condução dos programas preventivos. Nota do Editor: Claudemir Peres é presidente do Comitê de Fomento Industrial do Polo do Grande ABC (COFIP ABC).
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