As mulheres ainda sofrem da síndrome da expectativa, mas não no formato que todos acham - o do ser narcisista que acredita que todos são capazes de tudo por elas - mas sim da doença esperançosa, altruísta e sonhadora que ainda hoje mantém o príncipe no cavalo branco que vem salvá-las de todos os males.

O príncipe da realidade tem mais defeitos do que se imagina e mais restrições e limites do que se gostaria. Se ele tem o cavalo, acaba vindo sem a espada, se tem espada, com certeza, está a pé. É assim no universo feminino: os sonhos de menina estão presentes na mulher e são repaginados para que se adaptem à maturidade.

O que nós queremos todo mundo sabe: um cavalheiro, bonito, bem humorado, romântico e com grana. Muita coisa? Na realidade, os atributos do príncipe deveriam ser bem equacionados, de acordo com o possível, mas é nesse "possível" que a maioria das mulheres se perde.

Em algum momento de suas vidas, as mulheres entendem que o príncipe não existe, mas esta noção não é um antídoto muito eficaz para que a busca de um amor seja algo mais fácil. Obstinadas, algumas mulheres percebem que seu par não terá todas as qualidades necessárias, mas alguma coisa deve permanecer para que o sonho não se invalide por completo. Que fique claro aqui, que ninguém abre mão totalmente de seus sonhos e que a saúde emocional está exatamente na escolha de qual sonho deve-se viver e de qual deve morrer, enfim.

Esta barganha é feita a luz da auto-estima da mulher e, dependendo de quais características do príncipe que ela decide que não pode abrir mão, estará selada a sua vida afetiva. Enfim, entendemos porque certas pessoas aceitam conviver com alguns defeitos do par e outras não os suportam em hipótese alguma.

Logo, podemos entender uma mulher que, para manter um casamento aceita ser surrada, maltratada, desprezada, ironizada, desprestigiada, traída, mantida como objeto de luxo ou empregada. Podemos, ainda, esquecer a versão mais comum da falta de respeito a que algumas mulheres se submetem para ter um namorado ou companheiro, que as deixa sempre esperando, que está sempre cansado para ela, que não a toca com carinho, que faz economia de afeto e atenção, que a maltrata na frente dos amigos ou faz um sexo básico, de vez em quando, só para constar e ela não reclamar muito.

O que mantêm as mulheres junto a seus pares inadequados é, de um lado, o quanto esse homem se aproxima do príncipe - a beleza ou condição financeira, por exemplo - e do outro, o quanto sua auto-estima permite que ela tenha e ache que merece. Quanto mais desequilibrada for esta balança, menos as mulheres se livram de seus sofrimentos e escolhas.

Como podemos observar, as expectativas obedecem a um caleidoscópio de desejos e intenções que representam toda estória de vida daquela pessoa até o momento.

Um relacionamento saudável, com certeza, é recheado de muitas expectativas e sonhos, mas eles são transparentes e negociados à medida do possível e do viável, sempre com a intenção de satisfazer grande parte das necessidades de cada um. Se não for assim, a convivência acaba maltratando sistematicamente as pessoas e reiterando suas limitações e neuroses.

Para se ter e manter um relacionamento é necessário ceder e aceitar os defeitos do outro tanto quanto os nossos. Mas, escolher quais defeitos são suportáveis é uma questão de saúde ou de doença. POR ISSO, TODO CUIDADO É POUCO!