Eles são amorosos, encantadores, ingênuos mas também gostam de empurrar e até morder! Quando o assunto é defender um brinquedo ou mesmo mostrar insatisfação, as crianças pequenas muitas vezes não hesitam em dar uma bela dentada no amiguinho. Muitos são os casos de mães e pais que, ao buscar seu filho na escolinha, surpreenderam-se com as marcas de mordida. Uma situação nada agradável para todos os envolvidos na história. Os especialistas aconselham os pais a não valorizar demais estas agressões. Eles afirmam que, até os quatro anos de idade, elas são normais. "Nesta fase, as crianças ainda não entendem a existência do outro e toda forma de explorar o mundo passa pela boca, é a chamada fase oral. Muitas vezes o bebê morde apenas para testar os limites do outro, para ver o que acontece. Em outras situações, quando se sente contrariado, a mordida é uma forma de mostrar sua agressividade, já que ainda não sabe se expressar de outra maneira" explica Luciana Blumenthal, psicóloga do CAD, Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento. Ela acrescenta que conforme as crianças crescem, elas aprendem a controlar suas emoções e a se expressar através da fala, deixando a mordida de lado. "O importante é que tanto a escola quanto os pais saibam usar este momento para ensinar à criança regras de convivência", completa. No Berçário B&B Balou Lounge, no Morumbi, professores e auxiliares são orientados a intervir e ensinar às crianças os limites e o respeito ao outro sempre que algo assim acontece. "Para a criança que mordeu, explicamos que o que ela fez não é algo bom, que machucou e deixou o amiguinho triste e falamos para ela pedir desculpas. Para a criança mordida, dispensamos carinho e atenção" relata Fabiane Boyadjian Guimarães, coordenadora pedagógica do Berçário. Ela diz que apesar do acompanhamento dos professores, às vezes não é possível evitar que algum aluno acabe sendo mordido. "Quando isto acontece informamos os pais sobre o ocorrido na agenda do aluno, mas não revelamos o nome da criança que mordeu", conta. A escola também convida os pais das crianças envolvidas para uma conversa quando são orientados sobre a melhor forma de agir nesta situação. "Contamos a eles que este tipo de comportamento é natural nesta fase da vida e que eles devem incentivar seus filhos a se expressar de outra forma, através de gestos ou palavras, por exemplo. Mas também é importante investigarmos o que o aluno está vivenciando em casa. Houve um caso aqui na escola de um aluno que mordeu o coleguinha e depois ficamos sabendo que os pais brincavam com ele em casa com mordidinhas carinhosas. Ou seja, para aquela criança morder era uma brincadeira", comenta. Mesmo com as orientações, Fabiane revela que às vezes alguns pais cobram explicações e ações da escola. "Houve um caso, em que uma mãe me ligou perguntando qual a punição que seria dada ao aluno de dois anos que havia mordido seu filho. Expliquei a ela que não trabalhávamos desta forma". Apesar de na maioria das vezes a mordida fazer parte do desenvolvimento natural da criança, a psicopedagoga Maria Irene Maluf, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPp, alerta que, em alguns casos, este comportamento pode sinalizar um problema de ordem emocional. "Se estas mordidas passam a ser freqüentes, a criança pode estar insatisfeita, ansiosa, com sentimento de rejeição e tenta chamar a atenção através da agressividade. Quando isto acontece, a família e a escola precisam acompanhar de perto essa criança, ter atenção para detectar o porquê. Falta carinho e atenção? Como é a estrutura familiar? E dependendo do caso, é importante buscar a ajuda de um psicólogo", orienta.
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