A busca de uma orientação vocacional para os filhos, muitas vezes, assume proporções de grande importância nas famílias, especialmente quando estes já freqüentam o ensino médio. Trata-se, como quase todos os problemas educacionais, de um assunto a ser tratado ao longo da vida da criança, mas infelizmente, na maior parte das vezes, os pais só lhe dão atenção, quando o filho chega às portas do vestibular. Esse assunto tem se tornado um problema mais complexo para todos, já que a quantidade de profissões à disposição para escolha é enorme e vivemos na era da especialização, o que complica ainda mais a situação. De modo geral, nas gerações anteriores, a questão era senão satisfatória, muito prática: os filhos seguiam as "vocações familiares", como se a escolha profissional fosse determinada geneticamente e, se haviam frustrações, essas eram absorvidas e sofridas em silêncio. Mais tarde, os aconselhamentos familiares sobre o que era indicado e favorável do ponto de vista do provável sucesso profissional e financeiro dourava a pílula do desejo frustrado do jovem... Atualmente, as coisas sofreram grandes alterações. Não só os pais passaram a respeitar mais as escolhas de seus filhos, como também acabaram por ficar tão ou mais confusos do que eles ao partilharem desse universo de possibilidades e de atalhos que o perfil profissional pode assumir, e ao cruzar todas as possibilidades que são trazidas - a graduação e a pós-graduação - esta última tão necessária a todos que estão no mercado de trabalho ultracompetitivo. Acontece que praticamente não há mais aquela escolha profissional para toda a vida, que era exercida com pouquíssimas alterações ao longo dos anos. As rápidas mudanças introduzidas pela ciência e pela tecnologia transformaram o mercado de trabalho, que exige, hoje, pessoas preparadas para enfrentar construtivamente situações novas, em que se mesclam os perfis e as competências profissionais. Nossas crianças devem ser preparadas, desde cedo, para desenvolverem o domínio de capacidades básicas que serão instrumentos preciosos nas fases posteriores da vida, entre elas a capacidade de buscar e selecionar informação, gerir o tempo de forma produtiva e ser capaz de estabelecer, perseguir e reavaliar objetivos. Devem ser capazes de se auto-avaliar em todos seus pontos favoráveis e menos favoráveis em relação a uma e outra aspiração que desejem concretizar. Pesquisar e experimentar são as palavras-chave. As diferentes formas de trabalho devem ser olhadas como oportunidades de explorar e de colocar em prática suas competências, pois já não há profissões onde o sucesso é maior do que em outras e nem há garantias de realização, já que as exigências são variáveis e o sujeito deve saber estabelecer antecipadamente novos planos de ação a cada mudança, para atingir com eficácia e eficiência seus objetivos. Intencionalmente trabalhada pela família e pela escola desde cedo e em todas as etapas de desenvolvimento humano, essa nova visão de orientação profissional levará o jovem a escolhas mais acertadas, tranqüilas e coerentes com o tempo em que vive. Nota do Editor: Maria Irene Maluf é Pedagoga especialista em Psicopedagogia, Presidente Nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia ABPp e Sócia honorária da Associação Portuguesa de Psicopedagogos.
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