O Brasil após a histórica copa de 1950 volta a sediar o maior evento do futebol mundial em território nacional. A oportunidade não somente significa evidenciar uma das construções históricas mais marcantes da identidade nacional, como também, festejar e refletir sobre diversas questões sociais, culturais, econômicas e de gênero. Observa-se na contemporaneidade, uma adesão cada vez maior das mulheres nos esportes e eventos esportivos. Participam tanto quanto os homens com alegria e entusiasmo. Fato que desvela aparentemente e em suas entrelinhas, as inúmeras conquistas femininas nos espaços públicos e privados. Entende-se a prática esportiva e o gosto pelo esporte como campo de poder, tramas, conflitos, tensões e investimentos. Desde o século XIX, as mulheres puderam praticar algumas modalidades de esportes e apreciá-los, pois dentro dos “discursos médicos” da época, significava o combate ao ócio, o desenvolvimento de postura estética, disciplinada e higiênica. Ações necessárias para a transformação do Brasil em país um civilizado aos moldes europeus. O progresso e a ordem civilizada se efetivariam nos trópicos se combatêssemos o que era considerado atrasado. Vários tratados de Educação Física e manuais de eugenia foram produzidas visando o enquadramento da sexualidade e do corpo feminino e masculino e o que era permitido a cada gênero com relação aos esportes. Com a conquista de Direitos civis, políticos, sociais e econômicos pelas mulheres, o processo de desconstrução de diversos estereótipos de gênero vem acontecendo paulatinamente. O adensamento das mulheres no mercado de trabalho produtivo, nas universidades e em funções consideradas masculinas vem aumentando a cada dia. E nesse contexto, a participação das mulheres, assistindo aos jogos, apreciando o futebol, esporte historicamente construído como masculino, frequentando estádios, vestindo-se de verde-amarelo, tomando as ruas em festa, segue o movimento histórico de transformação das sociedades e dos indivíduos no mundo ocidental. Reflexo das lutas e conquistas feministas, a mulher, hoje, caminha rumo à consolidação dos direitos de decidir sobre o seu corpo, alcançar seus desejos e opções, na direção da equidade e igualdade entre homens e mulheres no espaço público e privado. Essas questões estão vivas e presente no envolvimento do gênero feminino no futebol. Não obstante, vale ressaltar que a Copa do Mundo no Brasil em 2014, também revela as desigualdades e problemas complexos de gênero, basta contar quantas mulheres trabalham como árbitras ou bandeirinhas, bem como, a discriminação sociorracial, a violência e exploração sexual contra crianças e adolescente e o tráfico de pessoas durante esse evento. Preocupações de gênero, raça/etnia que carecem ser problematizadas. Assim, caminhamos para um mundo em que mulheres e homens podem participar da vida cultural, social, política, econômica e esportiva com igualdade. Para os brasileiros e brasileiras do esporte considerado paixão e marca nacional. Nota do Editor: Rosana Maria Pires Barbato Schwartz, é historiadora e professora do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Doutora em História pela PUC e Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela UPM.
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