Recordes no PIB, exportações e superávit fiscal podem escoar-se na vala das palavras vazias
O bom desempenho da economia brasileira parece ser o principal responsável pelo aumento da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, indicado por institutos de pesquisa. Assim, considerando a importância da tranqüilidade política para a consolidação de um fluxo duradouro de prosperidade, pode-se dizer que o chefe da Nação perdeu excelente oportunidade de ficar calado, ao insinuar publicamente que teria havido corrupção em um órgão do governo na administração de seu antecessor. Quem fala o que quer ouve o que não quer. E o presidente está ouvindo, inclusive ameaças de processo de impeachment. O exemplo soma-se a tantos outros como alerta a algumas personalidades, no sentido de que controlem a incontinência verbal e tenham mais serenidade e bom senso ao exercitar o dom da fala. Isto é imprescindível, pois há declarações inconseqüentes que, dependendo de quem faz, onde faz e quando faz, podem ter sérias conseqüências. Entender que um péssimo silêncio é melhor do que um excelente desmentido torna-se ainda mais prudente nesta era da informação. Num mundo em que as telecomunicações e a tecnologia das mídias eletrônicas conferem valor exponencial, imediatismo e onipresença a declarações e frases mal colocadas, estas podem transformar-se num turbilhão, derrubando bolsas de valores, influenciando o câmbio e tumultuando a economia. Muitos têm perdido preciosa oportunidade de ficar quietos. A irresponsabilidade oral, declarações aleatórias, promessas vazias, arroubos demagógicos e, às vezes, a falta de conhecimento alimentam o vasto repertório de frases de infeliz impacto, muitas vezes ditas sob tensão emocional ou com mero propósito político. Não é à toa que revistas semanais e mensais do mundo inteiro dedicam páginas inteiras a estas pérolas do vernáculo. Por isso, os que estão sob os refletores da mídia e também os que têm apenas aqueles 15 minutos de glória devem estar sempre preparados para dizer a frase certa, grandiosa e oportuna. Dois exemplos - o astronauta Armstrong, ao desembarcar na Lua e disparar: "Um pequeno passo para um homem, um grande salto para a humanidade". Júlio César, depois da vitória militar que o consolidou no poder em Roma: "Vim, vi, venci". Ou seja, uma frase pode incluir ou excluir uma pessoa da antologia da história. É preciso saber lidar com as palavras, ter cacife para provar o que se diz e sabedoria para ficar quieto, não falar de forma inoportuna e evitar discorrer sobre o que não se conhece bem. Conhecida fábula ilustra bem a questão: no mundo árabe, um sultão pensava estar próximo da morte. Então, pediu ao seu grão-vizir que lhe sugerisse uma frase para que, ao falecer, sua sabedoria fosse legada à posteridade. O grão-vizir solicitou um tempo para pensar. Dias depois, apresentou ao sultão frase em estranho idioma, com especial sonoridade. Passado algum tempo, sentindo que o fim estava próximo, e mesmo não sabendo o significado, o sultão - solene, emocionada e publicamente - proferiu a frase. E se elevou aos braços de Alá. Sábios foram convocados para descobrir em que língua dissera suas últimas palavras e as decifrar. Eis a tradução: "Deixo meu reino e toda minha riqueza ao meu fiel e querido grão-vizir..." Nota do Editor: Milton Mira de Assumpção Filho, diretor da Editora M. Books, é membro da Academia Brasileira de Marketing.
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