Como mante-los?
Poucos países do mundo têm o privilégio de revelar em tão pouco tempo um grande número de jogadores talentosos como o Brasil. No entanto, com a mesma rapidez com que o jovem talento surge no país, ele logo se transfere para o futebol do exterior. O resultado disso é que quase toda a base da Seleção Brasileira é formada por jogadores que atuam fora do país. Itália, Espanha, Inglaterra, França e Portugal são os principais destinos dos principais talentos. Turquia, Grécia, Rússia, Japão e Coréia do Sul mostraram nos últimos anos serem uma rota alternativa para as novas revelações. Especialmente para os camisas 10, o assédio de clubes e empresários do exterior é intenso. Ronaldinho Gaúcho deixou o Brasil com 21 anos para ir jogar na França. Outro nome de destaque da nova geração de craques do futebol brasileiro, o meia Diego saiu do Santos em 2004, com 19 anos, para reforçar o Porto e logo mostrou aos portugueses como o investimento valeu a pena. Comandando o meio-de-campo da equipe portuguesa, Diego conquistou o título mundial interclubes vencendo o Once Caldas, da Colômbia, na decisão da Copa Intercontinental realizada no Japão, em dezembro. A conquista coroou uma temporada brilhante do jogador, que ganhou o título da Copa América, no Peru, com a Seleção Brasileira. Diego participou ainda dos primeiros jogos do Santos na campanha que resultou no título brasileiro de 2004. Outros jovens valores deixaram o Brasil bem cedo. Júlio Baptista trocou o São Paulo pelo Sevilla antes de completar 22 anos. Kléberson, que jogava com a número 10 no Atlético-PR, foi parar no Manchester United com 23 anos. Kaká foi para o Milan com 21 anos. Dudu Cearense foi para o Japão e depois para a Europa logo após ser campeão mundial de juniores em 2003. O meia Alex resistiu às ofertas internacionais, teve uma breve passagem pelo Parma, da Itália, mas em 2004 acabou se transferindo para o Fenerbahçe, da Turquia, aos 27 anos. O êxodo dos jogadores cresceu tanto nos últimos anos que as equipes brasileiras são obrigadas a refazer boa parte do elenco na metade da temporada para suprir os atletas que deixaram o clube. O trabalho que os treinadores vinha realizando se perde com a saída de jogadores importantes, a equipe cai de produção, e a torcida acaba pagando a conta ao ver seus ídolos indo embora. Como manter os maestros do futebol brasileiro? Para o ex-jogador Sócrates, que no auge de sua carreira foi jogar na Fiorentina, da Itália, os clubes brasileiros precisam ser melhor administrados e buscar alternativas para atrair a atenção dos patrocinadores e formar parcerias para ajudar a manter os principais atletas no país. "Os clubes precisam valorizar mais o seu produto, procurar segurar os jogadores, valorizar o artista e fazê-los se tornarem mais rentáveis", afirma. É preciso, portanto, a profissionalização da administração do futebol, para que o esporte tenha o crédito necessário para atrair investimentos internacionais e poder competir com as potências estrangeiras. Raí também defende uma reestruturação geral dos clubes. Ele, que jogou no futebol francês, lembra o modelo da Copa União, idealizado em 1987 quando as principais equipes do país se uniram para formar o Clube dos 13 e realizaram uma competição nacional de grande popularidade, mas que acabou durando apenas dois anos. Além de uma profissionalização da administração esportiva, só mesmo o fortalecimento da moeda nacional poderá permitir aos clubes ter condições de concorrer contra o assédio dos clubes estrangeiros.
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