O camisa 10 exerce uma função fundamental em um time de futebol. Ele é o organizador da equipe, o responsável por ditar o ritmo do jogo, tomar as principais decisões, acelerar o time, prender a bola, saber o momento certo de driblar, lançar ou chutar a gol. É o cérebro da equipe. "É o homem que marca a diferença", afirma o técnico da Seleção Brasileira Carlos Alberto Parreira. "Nenhum sistema está preparado para lidar com o inesperado, a criatividade, especialmente se vier junto com a habilidade, velocidade de raciocínio, ou seja, as decisões rápidas. No campo, são os jogadores que tomam as decisões. Os princípios de ataque são apenas ferramentas que eles devem aprender como e quando usá-las." A principal característica que diferencia o camisa 10 dos demais jogadores de uma equipe é a visão periférica. É a capacidade de fixar o olho na bola e, simultaneamente, perceber tudo o que acontece ao seu redor e enxergar toda a anatomia de uma jogada: o atacante se infiltrando pelo meio da área, o lateral apoiando no espaço vazio, a defesa adversária mal colocada, ou o goleiro muito adiantado. A figura do jogador habilidoso que fazia a ligação entre o meio-de-campo e o ataque com liberdade para buscar espaços na defesa adversária e bom aproveitamento nas finalizações começou a aparecer na metade da década de 50, na Hungria. O técnico Bela Guttman, então comandante do MTK Hungária FC, transformou o esquema tático conhecido como WM (3-2-2-3) no esquema 4-2-4. Com este novo desenho, a equipe ficava menos vulnerável na defesa e mais consistente no ataque. A tática de Guttman foi incorporada por Gustav Sebes, técnico da Hungria na Copa de 1954. Os húngaros foram vice-campeões do Mundial disputado na Suíça mostrando um ataque arrasador, marcando 27 gols em cinco jogos. Bela Guttman veio ao Brasil em 1957 para treinar o São Paulo e com seu esquema tático revolucionário foi campeão paulista daquele ano, tendo o veterano Zizinho como o seu maestro. Em 1958, Vicente Feola aplicou a tática na Seleção Brasileira e com o 4-2-4 o Brasil foi campeão do mundo pela primeira vez, tendo Pelé como o camisa 10. Para conter a habilidade de jogadores com características de habilidade e grande visão de jogo, a Internazionale de Milão introduziu em 1963 a figura do líbero, um jogador para atuar atrás da linha da defesa na cobertura dos zagueiros. A Inglaterra, por sua vez, ganhou a Copa do Mundo de 1966 com um esquema 4-4-2, congestionando o meio-de-campo para reforçar ainda mais a marcação no setor. Mesmo com toda a rigidez tática das equipes da Europa, o talento do jogador de meio-de-campo continuou fazendo a diferença. Com Pelé, o Brasil ganhou três copas. A Argentina foi campeã mundial em 1978 com destaque para outro camisa 10 habilidoso, Mário Kempes. Diego Maradona, por sua vez, consagraria a figura do maestro com a genialidade demonstrada principalmente na Copa do Mundo de 1986. "O camisa 10 era o jogador que municiava o ataque e também finalizava. Quando estava em um bom dia, o time todo andava. Basta olhar jogadores como Pelé, Tostão e Zico", comenta o ex-jogador Júnior. "Os italianos chamam este jogador de Homo Quadra, que é o cara que joga para o time e termina se revelando como principal jogador, talvez até em função dessa própria posição dentro de campo." A evolução tática do futebol levou para o século 21 dois sistemas de jogo difundidos pelo planeta: o esquema 4-4-2, mais usado na América do Sul, e o 3-5-2, que predomina na Europa. A principal evolução destes últimos anos foi a preparação física dos atletas. O jogo ficou mais rápido, tempo e espaço para dominar a bola, olhar os companheiros e arriscar uma jogada diminuíram e o jogo ficou mais físico. Tudo isso exige dos jogadores, especialmente daquele responsável pela armação de jogadas de ataque de sua equipe, um grande preparo físico, que lhe permita ter resistência aos choques dos adversários, fôlego para correr por uma grande faixa do campo com e sem a bola e explosão muscular para os arranques em velocidade e as finalizações de fora da área. Para que todo o seu talento possa aflorar, o camisa 10 precisa ter uma capacidade física que lhe permita antecipar todas as jogadas, uma vez que a marcação adversária será intensa e os zagueiros vão procurar a todo custo interromper suas jogadas, mesmo que usando o recurso da falta. "O que caracteriza o camisa 10 é o fato dele ser o jogador mais próximo de realizar as jogadas definitivas", reforça Zagallo, coordenador-técnico da Seleção Brasileira. "O que isso significa? Fazer gols." Para o compositor Chico Buarque, um apaixonado pelo futebol, a função do camisa 10 foi mudando com o tempo. "Quando comecei a gostar de futebol as posições do campo eram mais definidas. O camisa 10 era aquele que chegava ao ataque vindo de trás, atuava mais pelo lado esquerdo", relembra Chico Buarque. "Hoje a formação tática mudou, a disposição dos jogadores em campo mudou, a velocidade, a mobilidade dos jogadores é maior, então não há mais posições fixas. Eu já não sei exatamente o que é o camisa 10".
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