Oxigênio não é só para respirar
Embora o mergulho seja um esporte com preparo físico específico, os acidentes envolvendo mergulhadores são mais comuns do que se imagina. Segundo dados da Divers Alert Network (Dan), organização não governamental internacional de apoio, assistência e de informações sobre o esporte, embora não existam dados oficiais, no Brasil ocorre em média um acidente por mês. Hoje, como o nível de preparo e instrução das escolas de mergulho evoluiu muito, os acidentes estão mais associados aos comportamentos inseguros ou as circunstâncias perigosas, mas ocorrem também sem causa aparente. A principal conseqüência é a chamada doença descompressiva, caracterizada pelo excesso de gás no organismo. Ela ocorre geralmente pelas subidas e descidas bruscas na água. As doenças descompressivas (DD) causadas por acidentes de mergulho podem ser de intensidade leve, moderada ou grave. Para DD leve, os sintomas são dor nos membros e sensação anormal localizada. Para a DD moderada, há deficiência sensorial e fraqueza. Já a grave pode provocar paralisia, dificuldade respiratória, desmaios, disfunção cerebral e até morte. "Uma pessoa que desce 20 metros na água é como se estivesse a 3 atmosferas de pressão", afirma o responsável pelo Setor de Medicina Hiperbárica do Hospital e Maternidade São Camilo, o infectologista Dr Ivan Marinho. Outro problema para quem gosta de praticar o esporte é que o principal tratamento para a doença descompressiva é a medicina hiperbárica, quase indisponível nos locais onde se praticam mergulhos recreativos. Além disso, alerta o médico, existe o fator tempo já que o ideal é iniciar o tratamento na câmara hiperbárica em até duas horas. "Isso não é possível, principalmente porque os acidentados não devem viajar de avião em função da pressurização da cabine", informa o Dr Ivan. MEDICINA HIPERBÁRICA - A medicina hiperbárica é uma terapia que utiliza oxigênio 100% puro. O tratamento é feito em câmaras, algumas muito semelhantes àquelas para realização de bronzeamento artificial, onde o paciente fica deitado por duas horas inalando o oxigênio puro. Nos acidentes de mergulho, a doença descompressiva mais comum é a embolia gasosa, em que a pessoa fica cheia de gás, que pode percorrer a corrente sanguínea e chegar ao cérebro, causando um acidente vascular cerebral (AVC) ou embolia pulmonar. "O gás entope o vaso sanguíneo, não chega sangue e a pessoa morre, por infarto, (AVC), entre outros", comenta o Dr Ivan. A oxigenoterapia hiperbárica faz essas bolhas de ar de dentro da pessoa diminuir a um terço, de modo que escapa pela respiração.
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